Sem sequer ter sido lançado, o Renda Brasil estava sendo preparado para substituir o Bolsa Família.
Incomodado, o presidente leu as manchetes de quatro principais jornais do País e negou que vá tirar “dinheiro do pobre para passar para o paupérrimo”.
Segundo aliados do presidente, ele também se irritou na semana passada ao ver na imprensa um parecer da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, órgão ligado ao Ministério da Economia, que recomendava o veto à anistia às multas das igrejas e templos.
A divulgação da informação levou parlamentares evangélicos a iniciarem uma corrida ao Palácio do Planalto para tentarem reverter o indicativo ao veto, que acabou não acontecendo. Bolsonaro vetou o artigo.
Segundo interlocutores do Planalto, o presidente tem repetido para seus auxiliares que questões internas do governo devem ser tratadas internamente e não pela imprensa.
“Barulheira”
O ministro da Economia, Paulo Guedes, chamou de “barulheira” as discordâncias entre o presidente Jair Bolsonaro e integrantes da equipe econômica sobre meios de financiar o programa social Renda Brasil. O ministro também afirmou que não foi endereçado a ele o “cartão vermelho” citado pelo presidente.
Mais cedo nesta terça, Bolsonaro disse que “está proibido” dentro do governo falar do programa Renda Brasil. O programa chegou a ser discutido como um substituto do Bolsa Família.
No entanto, propostas de equipe econômica sobre cortes de gastos noutras áreas para financiar o Renda Brasil não agradaram ao presidente. Bolsonaro disse que o Bolsa Família vai continuar.
O presidente também criticou tentativas de se buscar receitas para o Renda Brasil a partir do congelamento de aposentadorias e pensões.
Em entrevista ao G1, no último domingo (13), o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, disse que essas medidas eram avaliadas pela equipe econômica. Outra alternativa era reduzir o valor do seguro-desemprego.
Bolsonaro chamou as medidas de “devaneio” e disse que daria um “cartão vermelho” a quem lhe apresentasse essas propostas.
Guedes falou sobre a situação em uma videoconferência sobre reformas e o futuro da economia brasileira após a pandemia.
“Hoje [terça-feira] teve essa barulheira toda. Estamos fazendo conexões de pontos que não estão conectados. São estudos que fazemos, estamos assessorando. Várias simulações e estudos são feitos. Tratamento seletivo da informação distorce tudo”, afirmou Guedes.
O ministro disse ainda que conversou com o presidente na manhã desta terça.
“Como todos jornais deram isso hoje, que o presidente vai tirar dinheiro dos idosos, frágeis e vulneráveis para passar aos paupérrimos, o presidente repetiu o que tinha dito antes. E levantou um cartão vermelho, que não foi para mim. Conversei com o presidente hoje cedo. Lamentei muito essa interpretação”, continuou o ministro.