O general da reserva Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi preso preventivamente no sábado (14) por obstrução de Justiça. Conhecido como “cumpridor de ordens”, segundo a Polícia Federal, Braga Netto é tido como “figura central” da tentativa de golpe que envolvia o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Durante o governo Bolsonaro, Braga Netto tem um histórico de atos antidemocráticos. Ele fez ameaças e condicionou as eleições de 2022 ao voto impresso e celebrou o golpe militar de 1964, que seria, segundo ele, um “marco histórico da evolução política brasileira”. Ele é o primeiro general de quatro estrelas preso na era democrática do Brasil.
Braga Netto foi ministro da Casa Civil em 2020, período em que foi responsável por coordenar a resposta do governo Bolsonaro à pandemia de covid-19. Em 2021, assumiu o Ministério da Defesa. Filiou-se ao partido de Bolsonaro, o PL, em um ato privado, fechado ao público, em março de 2022. Ele também comandou a intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018.
Enquanto chefe do Ministério da Defesa, no 31 de março de 2022, Braga Netto publicou uma ordem do dia celebrando o golpe de Estado de 31 de março de 1964, que culminou na ditadura militar. Segundo ele, o golpe foi um “marco histórico da evolução política brasileira” e os militares teriam agido para “restabelecer a ordem e para impedir que um regime totalitário fosse implantado no Brasil”, sem, no entanto, existirem evidências históricas que confirmem as afirmações.
Em julho de 2021, Braga Netto, então ministro da Defesa, condicionou a realização das eleições de 2022 ao voto impresso. O recado, repassado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi revelado pelo Estadão.
No mesmo dia, Bolsonaro repetiu publicamente a ameaça: “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, afirmou o presidente a apoiadores, na entrada do Palácio da Alvorada.
No dia 29 de setembro de 2021, o procurador-geral da República, Augusto Aras, abriu apuração preliminar contra Braga Netto pelas ameaças às eleições. A proposta pela adoção do voto impresso foi derrubada pelo Congresso.
Mensagens obtidas pela PF mostram que Braga Netto incitou a tentativa de golpe e ordenou ataques contra o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes. Em dezembro de 2022, Braga Netto disse que a “culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes”. “Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, afirmou o ministro. “Oferece a cabeça dele. Cagão.”
Essas mensagens foram enviadas para o capitão reformado do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros, preso pela Polícia Federal na investigação sobre as fraudes nos cartões de vacina.
Em outras mensagens, Braga Netto também chegou a chamar o O ex-comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, de “traidor da pátria” e disse para “infernizar a vida dele e da família”.
Em depoimento à PF, Freire Gomes disse que Bolsonaro reuniu-se com ele para apresentar argumentos jurídicos que permitiriam uma ruptura democrática. Outros relatos reindicam que ele recusou participar. Segundo o brigadeiro Baptista Júnior, Freire Gomes ainda ameaçou prender o então presidente, caso ele fosse adiante com o golpe.
Braga Netto é citado 98 vezes no relatório de 884 páginas da Operação Contragolpe que revelou a operação Punhal Verde e Amarelo, que planejava o assassinato do presidente Lula e de Geraldo Alckmin, além da prisão de Moraes.
Carreira militar
Nascido em Belo Horizonte, Braga Netto, 65 anos, entrou no Exército em 1974. Recebeu os títulos de Mestre em Operações Militares da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, em 1988, e de Doutor em Aplicações, Planejamento e Estudos Militares do Curso de Altos Estudos da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, em 1994.
Durante sua carreira, foi chefe do Grupo de Observadores Militares das Nações Unidas no Timor Leste, e adido do Exército na Polônia, no Canadá e nos Estados Unidos. Também foi coordenador de defesa de área dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio-2016. (Estadão Conteúdo)