Domingo, 05 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de dezembro de 2024
Conforme esperado pelo Boletim Macro FGV-Ibre e pelo mercado, a economia brasileira mostrou um crescimento robusto no terceiro trimestre, com todos os grandes setores contribuindo positivamente para o resultado de 0,9% (trimestre ante trimestre). Diferentemente de 2023, quando apenas os setores mais relacionados às commodities se destacaram, neste ano há um crescimento espalhado entre os setores. O que chamou mais a atenção neste terceiro trimestre foi novamente um expressivo crescimento da demanda interna e uma contribuição negativa da demanda externa para o crescimento. Diferentemente do ano passado, as importações cresceram muito acima das exportações, e o principal motor para o crescimento deste ano será a demanda interna.
E aqui temos aspectos positivos e negativos.
Pelo lado positivo, temos o expressivo crescimento do investimento, que tem superado as perdas do ano passado. Entre os motivos para o resultado negativo de 2023, tivemos a contração da indústria de transformação, que é uma atividade intensiva em capital, e a queda da produção de caminhões de quase 40%, pelos dados da Anfavea.
Pelo lado negativo, o que chamou mais a atenção foi o elevado crescimento do consumo das famílias, que avançou 1,5%, em relação ao segundo trimestre, e 5,5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Ou seja, o consumo cresceu em torno de 1,1% por trimestre desde o segundo semestre de 2021, ritmo superior ao crescimento do PIB, que foi de 0,8%.
E por que isso é uma notícia negativa? Como a economia está crescendo acima do seu potencial, impulsionada pelo consumo, a inflação, que estava em seu lento processo de convergência para a meta, mudou de direção. Choques de oferta, como a disparada dos preços de alimentação, em um contexto de demanda aquecida e de expectativas de inflação para horizontes mais longos que não estão apenas acima da meta, mas continuam divergindo, tornam o processo inflacionário muito mais difícil de ser combatido. Não há outra saída a não ser intensificar o aperto monetário.
Como sabemos, uma política fiscal expansionista em uma economia sem ociosidade, com um setor público deficitário e uma dívida pública elevada, tem efeitos líquidos deletérios: mais inflação, taxa de juros real mais elevada e mais riscos na economia. Não compensa. (Silvia Matos/AE)