O baiano Isaquias Queiroz, de 21 anos, venceu o ídolo canadense Mark Oldershaw, de 32, na final do C1 1000 m da canoagem velocidade e ganhou sua primeira medalha de ouro no Pan de Toronto (Canadá), nesta segunda-feira (13).
Tão rápido quanto os 4min07seg866 que Isaquias fez na prova foi sua passagem pela área de entrevistas rumo à premiação, que aconteceu após a conquista.
Do pódio, o canoísta brasileiro saiu correndo de volta à área de largada pois, cerca de 30 minutos depois, participou da prova de C2 1000 m., onde faturou a medalha de prata ao lado do baiano Erlon de Souza, de 24. A dupla canadense ficou com a medalha de ouro.
Na prova do K2 1000 m (caiaque para dois atletas), nesta segunda, o Brasil conquistou a medalha de bronze com Celso Dias de Oliveira Júnior, de 26, e Vagner Souta Júnior, de 24.
A diferença da canoa para o caiaque é que na primeira um vai de joelhos e na outra, sentado.
Depois do primeiro pódio, Jorge Bichara, gerente de desenvolvimento esportivo do COB (Comitê Olímpico do Brasil), precisou agir nos bastidores para Isaquias poder voltar descansado à área de início da prova C2.
“Se precisar, tiro ele daqui e levo de volta pra largada”, disse Bichara à reportagem antes de o atleta receber o ouro no pódio.
O pedido de agilidade foi do técnico Jesus Morlan, espanhol campeão olímpico que treina a seleção brasileira de canoagem há dois anos.
“É ótimo representar não só eu mesmo como o Time Brasil e ganhar a primeira medalha de ouro da canoagem. Eu sabia que podia superá-lo [o canadense]. Mas o importante é a medalha olímpica”, afirmou Isaquias.
Ele é uma das principais apostas do COB para ganhar uma das 30 medalhas projetadas para a Rio-2016. Atualmente, Isaquias recebe a Bolsa Pódio do governo federal (25 mil reais mensais) e treina em Lagoa Santa (MG), com toda estrutura necessária para ser medalhista olímpico ano que vem.
CIDADE DAS CANOAS
Nascido em Ubaitaba, conhecida como a “cidade das canoas”, onde o Brasil mantém um centro de treinamento para as categorias de base da modalidade, Isaquias tem uma história marcada pela superação.
Aos 3 anos, ele sofreu queimaduras em casa que marcam sua pele até hoje. Aos 10, o maior drama. Após cair de uma árvore em cima de pedras, ele teve hemorragia interna e precisou retirar um dos rins. O fato gerou até o apelido “sem rim” na adolescência. Atualmente, com controle de alimentação, ele diz que isso não o atrapalha.
Campeão mundial júnior em 2011 e bronze no Mundial de 2013 no C1 1000 m (prova olímpica), ele também é o atual bicampeão mundial (2013 e 2014) na C1 500 m (que não está no programa olímpico).
O Brasil já possuía duas medalhas de ouro na canoagem velocidade, ambas no caiaque (K2 500 m, em 2003, e K4 1000 m, em 2007). Ou seja esta é a primeira medalha de ouro individual e da canoa brasileira em Pan.
RIVAL
O principal rival de Isaquias na prova foi porta-bandeira do Canadá na cerimônia de abertura da última sexta-feira (10).
Filho e neto de atletas olímpicos canadenses, Oldershaw foi medalhista de bronze nesta mesma prova (canoa para uma pessoa, na distância de 1000 metros) nos Jogos Olímpicos de Londres-2012.
Além da conquista, Oldershaw é respeitado no Canadá por ter superado a descoberta de um tumor na mão direita que o tirou da Olimpíada de Atenas-2004. Após várias cirurgias, ele competiu em Pequim-2008 e se consagrou em Londres-2012. (Marcel Merguizo/Folhapress)