Sexta-feira, 14 de março de 2025
Por Redação O Sul | 9 de novembro de 2015
Em dezembro, os mais de 190 países membros da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) estarão reunidos em Paris, na França, na COP (Conferência das Partes) 21, com o objetivo de chegar a um consenso sobre a criação de um novo acordo em relação ao clima. Para isso, serão discutidas medidas para diminuir a emissão de GEE (gases de efeito estufa), que reduzirá o aquecimento global e limitará o aumento da temperatura média mundial em 2 graus até 2100. Diante desse tema, pesquisadores brasileiros elaboraram um estudo para analisar quais seriam as consequências econômicas e sociais em cenários de redução de emissão de CO2 (dióxido de carbono) no País. E o resultado foi positivo.
O estudo IES-Brasil (Implicações Econômicas e Sociais: Cenários de Mitigação de Gases de Efeito Estufa) busca auxiliar na tomada de decisão sobre as estratégias para mitigar as emissões de gases de efeito estufa e apresentar uma estimativa de viabilidade e custos. O trabalho, desenvolvido pela Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia) da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenado pelo FBMC (Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas), será apresentado em Paris.
O diretor de Relações Institucionais da Coppe/UFRJ e Secretário Executivo do FBMC, Luiz Pinguelli Rosa, fala sobre o estudo ao lado de outros especialistas envolvidos. (Foto: Paula Tanscheit/o Sul)
As projeções feitas no estudo IES-Brasil mostram que o País poderia, sim, apresentar um crescimento no PIB (Produto Interno Bruto) e emitir menos CO2 do que já se propõe a fazer. Segundo o diretor de Relações Institucionais da Coppe/UFRJ e Secretário Executivo do FBMC, Luiz Pinguelli Rosa, apenas medidas possíveis foram usados na composição dos cenários. “Eliminou-se uma dualidade já assumida de que ou se reduzem as emissões, ou se desenvolve o País.”
Além do avanço no PIB, a taxa de desemprego cai em todos os cenários de mitigação adicional. As medidas extras selecionadas também podem contribuir para o aumento da renda anual média das famílias em todas as hipóteses. Apesar do consequente aumento geral de preços dos produtos, já que os custos de produção seriam maiores, verifica-se um reflexo positivo no poder de compra da população.
Alternativas.
O estudo conclui ainda que existe um enorme potencial de abatimento de emissões de GEE no País, através da implantação de diversas medidas, como aumento da eficiência energética, uso de fontes renováveis de energia e de técnicas para uma agropecuária de baixo carbono, mudança de modais de transporte, captura de metano em projetos de saneamento básico e reflorestamento com espécies nativas e de crescimento rápido.
Conforme Emilio La Rovere, professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, a pesquisa foi realizada com base em uma premissa de retomada do crescimento econômico do País nos próximos anos. Mas, para isso, afirma ele, o governo deve fazer seu tema de casa. “Estamos perfeitamente cientes de que existem barreiras. O cenário só vai acontecer se tivermos políticas voltadas para isso.” Ele cita o preço da gasolina como um fator importante. “Se a gasolina custar o que custou nos últimos anos, não vai ter a produção de etanol que nós estimamos.”
Em um primeiro cenário de medidas adicionais do estudo, daqui a 15 anos, o País teria 1,303 bilhão de toneladas de CO2 equivalente. Já pelo segundo modelo, o que demandaria maiores esforços e investimentos governamentais, seria possível atingir 1,023 bilhão de CO2 equivalente, meta tida como ideal pelos ecologistas.
Grupo citou o uso do bagaço da cana-de-açúcar como fonte de energia da fase agrícola. (Foto: Reprodução)
O setor de energia é uma das apostas do grupo de pesquisa. “É necessário um aumento da eficiência energética no País”, aponta La Rovere. “A fase agrícola das energias sustentáveis geraria de três a quatro vezes mais empregos do que os combustíveis fósseis”, explica o pesquisador sênior do Centro Clima da Coppe, William Wills. “Além disso, medidas de eficiência energética também aumentam empregos ao usar mão-de-obra qualificada”, completa.
“Não há nada muito radical para evitar as emissões, o que precisa se juntar é a vontade política”, afirmou Pinguelli, citando como positiva a apresentação da presidenta Dilma Rousseff na última Conferência da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York (EUA). “É um novo cenário. Queremos que o governo assuma isso, porque estamos evoluindo”, exalta.
PIB e CO2.
Para os cenários de mitigação adicional significativa, seriam necessários investimentos totais em ações adicionais de mitigação de 99 bilhões de reais no período 2015-2030 e para os cenários de mitigação mais ambiciosa, de 372 bilhões de reais. O ganho de PIB acumulado no mesmo período seria de 182 bilhões de reais no primeiro cenário e de 609 bilhões de reais no segundo cenário.
De acordo com a análise, se não houver um esforço adicional de mitigação no Brasil, a tendência entre 2020 e 2030 é de aumento das emissões, principalmente devido ao ritmo de crescimento da queima de combustíveis fósseis e da agropecuária. (Paula Tanscheit)
*A repórter viajou ao Rio de Janeiro a convite do Santander