O agronegócio brasileiro vem impulsionando a economia do país mesmo em tempos de crise política e econômica, mas é preciso investir em agregação de valor para trazer rentabilidade aos produtores rurais. A avaliação é do economista e consultor Miguel Daoud, que proferiu palestra sobre o cenário político e econômico e os reflexos no agronegócio brasileiro na noite desta terça-feira, durante a Semana Arrozeira, organizada pela Associação dos Arrozeiros de Alegrete.
Inicialmente, o economista traçou um cenário da economia das grandes potências mundiais. Lembrou que os Estados Unidos foi o protagonista da crise mundial em 2008, já que o equivalente a 70% do PIB americano era consumido pelos próprios americanos e o PIB americano era um terço do PIB mundial. “Portanto a economia mundial entrou em recessão porque o americano retraiu o consumo. Se incentivou o crédito e o juro e isso vem se desenrolando. Quando chegou em 2008 a crise mundial se instalou”, ressaltou.
Na Europa, a situação também não é confortável, especialmente pelo endividamento dos países do bloco e o desemprego em alta nas nações europeias. O socorro está vindo dos bancos centrais de cada país, mas o consultor salienta que uma hora esta fonte de receita vai acabar. Já a China, de acordo com Daoud, tem um endividamento de 260% do PIB e que o desaquecimento vai afetar a economia mundial. “Se fala muito da alta dos preços dos grãos, mas um dia a China vai dizer que acabou a brincadeira e não paga estes preços. É um risco muito grande”, alertou.
Sobre o agronegócio brasileiro, enfatizou os números do setor, que representa 30% do PIB nacional, com cerca de R$ 1,3 trilhão, gerando 30% dos empregos no país e sendo responsável por 50% das exportações do país. Mesmo neste cenário, Daoud salientou que ainda é preciso evolução. “Este é o setor que salva o Brasil, mas precisa melhorar. Precisa agregar valor, pois exportar matérias primas não vai resolver o problema. Não seremos a colônia do mundo, precisamos impor ao mundo esse valor”. observou.
O economista também falou do cenário político brasileiro, afetado por escândalos de corrupção e que interfere diretamente no andamento da economia. Daoud afirmou que não há mais recursos para créditos e que é necessário achar soluções para não sucumbir os negócios à crise instalada no país com um rombo de R$ 170 bilhões nos cofres públicos. “Não tem dinheiro. O crédito será cortado. Tenho dúvidas se as dívidas serão renegociadas, pois acabou o dinheiro. O BNDES não tem dinheiro. Precisamos buscar alternativas, ninguém está pensando em conciliar a produção com o ajuste fiscal”, concluiu.
A Semana Arrozeira é realizada pela Associação dos Arrozeiros de Alegrete com co-participação da Unipampa e tem o patrocínio do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Sicredi, Fertilizantes Heringer, Super Tratores, CAAL, Kepler Weber e Caixa Econômica Federal. Mais informações sobre o evento estão no site www.semanaarrozeira.com.br.