Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 29 de maio de 2021
Sociedade Brasileira de Infectologia alerta que milhões podem ficar sem a segunda dose
Foto: DivulgaçãoSe a entrega de vacinas dos laboratórios esperada pelo Ministério da Saúde for cumprida, o Brasil tem tudo para concluir até o fim deste ano a campanha nacional de imunização contra a Covid-19. Mas nem tudo é motivo para comemoração.
Para chegar a essa meta, o país precisaria aplicar pouco menos de 1,2 milhão de doses por dia até 31 de dezembro, velocidade que já foi superada nessa mesma campanha. O Brasil tem 160 milhões de pessoas que podem ser imunizadas contra a Covid-19, com primeira e segunda doses, de acordo com o painel Localiza SUS, do Ministério da Saúde.
Na sexta-feira (28), o País injetou fármacos que previnem a Covid-19 em 1.211.432 pessoas – a terceira melhor marca num período de 24 horas até agora. O recorde, porém, ocorreu em 23 de abril, quando 1,7 milhão de vacinas contra a doença foi parar nos braços dos brasileiros.
A infectologista Paula Carnevale acha possível completar todos os grupos vacináveis até o fim de dezembro, desde que, obviamente, existam vacinas. “É essencial que o governo federal, de fato, assuma a responsabilidade de organizar a campanha nacional, que tem acontecido com ritmos diferentes nos estados. Para vacinar 1,2 milhão de pessoas por dia, é preciso que a vacina seja considerada prioritária pelo Ministério da Saúde”, comenta.
Na visão da infectologista, a coordenação é difícil por haver mais de uma vacina, por causa da necessidade de segunda dose e dos intervalos diferentes entre as aplicações e também porque ela ocorre em meio a outras campanhas de imunização, como a da gripe.
O diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri, diz não ter dúvida de que é possível que toda a população vacinável (com pelo menos 18 anos de idade) seja chamada para se imunizar. “O que não teremos é a imunização completa de grandes percentuais da população, porque, por várias razões, muitas pessoas não vão tomar a segunda dose”, explica.
Kfouri observou que das três vacinas hoje utilizadas no país, apenas as da AstraZeneca e da Pfizer têm estudos que mostram alguma proteção com apenas uma dose. “Mas não há essa informação da CoronaVac, a mais utilizada até o momento.”
O diretor da SBIm conta que é comum em vacinações de doença que exijam mais de uma dose uma redução no número de pessoas que procuram o posto de saúde para complementar a imunização. “As taxas de abandono normais de segunda dose ficam entre 15% e 20%. As pessoas simplesmente não retornam para se vacinar.”
Kfouri observa que a velocidade da imunização nos estados pode ser uma falsa notícia positiva. “Quando você passa a vacinar o grupo seguinte rapidamente, pode ser que sua cobertura esteja baixa. E aí, até porque não é justo ficar segurando imunizantes 30, 35 dias à espera das pessoas, você avança usando doses de quem ficou para trás e acabou não se imunizando”, disse. “E isso compromete toda a campanha.”