Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 22 de dezembro de 2015
Um comprimido por dia para prevenir o HIV em pessoas com maior risco de contrair o vírus. Esse é o modelo da chamada profilaxia pré-exposição, que deve ser alvo de dois novos estudos em larga escala no País.
Pela primeira vez, o Brasil terá como estratégia de saúde pública uma pesquisa para avaliar o uso de um medicamento preventivo contra o HIV por adolescentes de 16 a 19 anos que se consideram mais suscetíveis ao vírus.
Até então, os estudos eram conduzidos apenas em adultos que também fazem parte de populações de risco ampliado para o vírus, como homens que fazem sexo com homens e transexuais. Agora, a ideia dos dois levantamentos é ampliar os testes da terapia preventiva para mais participantes e incluir os mais jovens.
A Prep, sigla usada para a profilaxia, é composta pela associação, em uma só pílula, de dois antirretrovirais: tenofovir e emtricitabina. No mercado internacional, o remédio preventivo tem o nome comercial Truvada.
Em geral, o usuário acompanhado na terapia toma um comprimido por dia como forma de obter a prevenção ainda antes da relação sexual.
O modelo é diferente da profilaxia pós-exposição, já adotada no Brasil, em que outros medicamentos são usados após possível contato com o vírus, seja por vítimas de estupro, trabalhadores de saúde ou pessoas que fizeram sexo desprotegido.
A eficácia do Truvada é comprovada na literatura médica, desde que ele seja usado de forma correta. “Se o remédio está no sangue na hora da relação sexual, a proteção chega a quase 100%”, diz o infectologista Esper Kallás.
A ideia, agora, não é verificar a eficácia, mas testar se pessoas em situação de risco ampliado para o HIV aceitam tomá-lo como alternativa ao combate à epidemia de aids, especialmente entre jovens.
Cerca de 1,8 mil adolescentes sexualmente ativos devem participar do estudo, previsto para começar no primeiro semestre de 2016. Já a amostra da nova pesquisa em adultos ainda não foi definida.
Análise de risco.
Hoje, o grupo de 15 a 24 anos é um dos mais vulneráveis à aids. Nos últimos dez anos, a taxa de detecção da doença diminuiu 6,5% na população geral, mas subiu 41% nessa faixa etária. No País, a estimativa é que 781 mil pessoas convivam com o HIV.
Devem participar do estudo só jovens e adultos sexualmente ativos e considerados de risco ampliado – caso de gays e transexuais. “São populações com 12 a 30 vezes mais casos que a população geral”, diz Fábio Mesquita, diretor do departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde.
Ele ressalta que, mesmo com o uso da estratégia preventiva, não é recomendável descartar a camisinha, uma vez que o preservativo protege contra outras doenças e reforça a proteção. “É a primeira vez que [o método] será oferecido em uma escala real”, diz Lelio Marmora, diretor-executivo da Unitaid, organização que estuda políticas contra aids e financiará o projeto no Brasil.
Hoje, o Truvada pode ser encontrado nos Estados Unidos a custos de até 2,5 mil dólares por usuário/ano. Aqui, aplicado em larga escala e distribuído a mais países, a Unitaid estima que o valor pode cair a 100 dólares.
Para Georgiana Braga, diretora da Unaids no Brasil, a ideia é complementar o leque de opções para prevenir o HIV. “Fazendo um paralelo com saúde reprodutiva, tem camisinha, DIU, anticoncepcional e outras opções. A ideia é fazer a mesma coisa.” (Folhapress)