Terça-feira, 26 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 15 de outubro de 2022
Um levantamento da Tendências Consultoria aponta que as classes D/E, com rendimentos familiares mensais de até R$ 3,1 mil, representam 55,4% da população. Há dez anos, esse grupo somava 48,7%.
“Como a classe média é muito dependente do rendimento do trabalho, a conjuntura econômica do Brasil na última década acabou jogando os mais vulneráveis deste grupo para a camada mais pobre da população”, explica o economista Lucas Assis, analista da Tendências e especializado em mercado de trabalho e estudos regionais de classes.
Na pesquisa, a Tendências considerou, para estimar a renda, ganhos com trabalho, previdência, programas de transferência de renda, investimentos, juros e aluguéis. A classe A, por exemplo, tem renda mensal domiciliar superior a R$ 23,2 mil.
O aumento de brasileiros mais pobres é reflexo, segundo Assis, de uma classe média que minguou após enfrentar a recessão de 2015-2016 e os efeitos da pandemia, que fragilizaram o mercado de trabalho e diminuíram a renda.
“Houve migração das famílias de classe média para as classes mais baixas. O Brasil, assim como outros países de economia emergente, tem uma parte da classe média muito próxima da situação de pobreza. Estavam na classe média, mas eram vulneráveis. Voltam por causa de saúde, desemprego, aposentadoria. São famílias à mercê dos ciclos econômicos”, afirma Assis.
Foi o que aconteceu com Sérgio Barbosa, de 56 anos, que está desempregado há cinco anos. Com ensino médio completo e curso técnico de secretariado, ele tem vivido de bicos, e é o salário da esposa a garantia de renda dos dois. Como a renda da família caiu à metade — hoje são cerca de R$ 2,5 mil mensais —, a solução foi economizar. Eles trocaram a casa em Brasília por Planaltina de Goiás, a 57 quilômetros da capital federal, e reduziram o consumo.
Renda em queda
Nem mesmo o Auxílio Emergencial ou o reforço do Auxílio Brasil, turbinado nos últimos meses num esforço eleitoral do governo Jair Bolsonaro, adiantaram. As camadas mais pobres da população brasileira cresceram também durante essa gestão — passaram de 50,6% em 2018 para 55,4% agora.
Além de serem mais numerosos, esses brasileiros mais pobres ganham menos hoje. Há dez anos, as famílias das classes D e E recebiam, em média, R$ 2.756 mensais, em valores já corrigidos pela inflação. Agora, ganham R$ 2.675 — uma queda de 2,93% no período. A Tendências estima que levará uma década para a massa de renda dessas classes superar o patamar anterior, o que pode ocorrer só em 2031.
A desigualdade do Brasil fica evidente quando se avalia a renda. Apesar de a proporção de brasileiros na classe A ter diminuído — passou de 3,7% para 3,1% em dez anos — , os mais ricos estão ganhando mais. A renda mensal média da classe A avançou 19,1% no período. Em 2012, eles recebiam R$ 54,1 mil mensais. Neste ano, o rendimento é de R$ 64,2 mil, em média. Esse montante é 24 vezes a renda dos mais pobres.
No governo Bolsonaro, este aumento da pobreza se manteve. Em 2018 — último ano do governo Temer — 50,6% da população estavam nas classes D e E, e 31,7%, na C. Já neste ano, segundo a Tendências, além dos 55,4% nas classes D e E, 28,8% estão na C.
Para o economista Lucas Assis, da Tendências, a educação não revertida em produtividade é o maior entrave para a estagnação da renda das camadas mais pobres, mas só o ingresso no mercado de trabalho não é suficiente para a superação da pobreza.
“Nos próximos anos, a gente deve ver uma mobilidade social no Brasil muito reduzida, algo típico de países com alta desigualdade de renda. O mercado de trabalho brasileiro deve ainda seguir com baixas remunerações, elevadas desigualdades, altas taxas de informalidade e uma marcante heterogeneidade entre os setores produtivos”, diz ele.