O principal driver para adoção no Brasil de ativos digitais, particularmente as criptomoedas, é a possibilidade de obter ganhos muito acima dos demais ativos de risco, segundo estudo da Chainalysis, empresa de pesquisa especializada em blockchain.
No estudo, o comportamento dos brasileiros em relação às criptomoedas difere do verificado entre os demais países latino-americanos, em que transferência de recursos e proteção do dinheiro contra a inflação impulsionam o segmento. Nesses países, as transações envolvendo pessoas físicas (P2P) se destacam, diferentemente do que ocorre no Brasil.
“Descobrimos que os cidadãos das maiores e mais avançadas economias latino-americanas são mais propensos a adotar criptomoedas não apenas para economizar, mas para obter lucro”, cita o relatório.
Para a Chainalysis, isso significa que um grande número de usuários de criptomoedas está se envolvendo com protocolos que permitem emprestar, negociar e apostar em tokens de diferentes naturezas numa “atividade especulativa com risco significativo e potencial positivo”.
No caso da proteção contra inflação, os países que mais encontraram nas criptomoedas uma forma de preservar valor foram Venezuela e Argentina, países com taxas de inflação anual de 114% e 79%, respectivamente, o que significa que suas moedas fiduciárias perderam cerca de metade de seu valor nos últimos 12 meses.
Segundo a Chainalysis, nesses países stablecoins foram utilizadas nas transferências e pagamentos cotidianos. O estudo lembra que uma pesquisa recente da Mastercard sugere que mais de um terço dos consumidores latino-americanos já usam stablecoins para fazer compras diárias.
Na Argentina, mais de 31% do volume de transações de criptomoedas de pequeno valor ocorreram por meio de stablecoins, em comparação com apenas 26% do Brasil e 18% do México.
“Embora o bitcoin ainda não tenha provado ser o hedge de inflação que muitos acreditavam que seria, as stablecoins – criptomoedas projetadas para permanecer atreladas ao preço de moedas fiduciárias como o dólar – são as favoritas nos países mais devastados pela inflação na região”, diz o estudo.
No estudo, a Chainalysis cita o caso do Nubank, que lançou sua plataforma de investimentos em criptoativos neste ano e após um mês de operação chegou a 1 milhão de usuários. “Os clientes querem uma maneira de expandir seus ganhos. As taxas de juros nas mínimas históricas no país e a forte valorização dos preços das criptomoedas podem ter contribuído, mas a adoção continuou forte mesmo no chamado inverno das criptomoedas”, disse Thomaz Fortes, líder de criptomoedas do Nubank, no estudo.
Na visão do gestor brasileiro, o crescimento no número de usuários de criptomoedas do varejo foi muito mais rápida do ocorreu no mercado de ações, que demorou anos para atingir as mesmas cifras.
“Não são apenas investidores institucionais ou de alto patrimônio. Democratizar o acesso significa muita adoção no varejo. Aqui no Nubank, desenvolvemos a experiência de negociação de criptomoedas para que pudéssemos quebrar as barreiras de complexidade comuns nas corretoras de criptomoedas que operam em nicho”, disse ele.
O estudo mostrou ainda que as remessas também são comuns em toda a América Latina. Estima-se que o mercado formal de remessas da América Latina atinja US$ 150 bilhões este ano, e a adoção de serviços de remessas baseados em criptomoedas tem sido desigual, mas rápida, em toda a região.
O aplicativo de pagamento Chivo, que tem apoio do governo de El Salvador, por exemplo, processou US$ 52 milhões em remessas de bitcoin de janeiro a maio deste ano.