Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de abril de 2024
Luan Lucas, de 29 anos, imigrou para o Reino Unido há seis anos e trabalha como entregador em um serviço de delivery em Londres. Ele faz questão de mostrar que trabalha regularizado. Conta que, ao chegar, fez como lhe orientaram e “pagou um advogado” indicado para fazer a papelada – a ex-esposa obteve cidadania italiana e ele foi beneficiado.
Golpes nesse quesito, contudo, são frequentes. Pelos menos três pessoas, incluindo uma autoridade do governo brasileiro, relataram que há um verdadeiro mercado de pessoas em situação legal que “alugam” suas identidades mediante compensação financeira.
A promessa para atrair os trabalhadores estrangeiros é que, se o esquema der errado, eles podem solicitar ao governo britânico o chamado “retorno voluntário”, no qual pessoas em condição financeira precária recebem uma passagem e um auxílio para retornarem aos seus países.
“Nós recebemos diariamente pessoas que caem no golpe, não tem para onde ir e querem ficar aqui no escritório”, relata a advogada Vitória Nabas, da Casa do Brasil.
A organização oferece serviços diversos a imigrantes, mediante assinatura anual no valor de £60 (R$ 382,24), como orientação sobre pagamento de impostos no Reino Unido, regularização e litígios sobre moradia.
“O que eu digo hoje é: só venha se você tiver um emprego certo e falar inglês. O risco é muito sério e o governo vai dificultar mais ainda.”
Pressionado pela baixa popularidade após 14 anos de governo, o Partido Conservador, do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, colocou a questão migratória como uma prioridade. Os aplicativos de entrega têm sido cobrados a tomar medidas para evitar prestadores de serviço em situação migratória irregular. Pela nova regra, estudantes internacionais de graduação não podem mais trazer familiares como dependentes – o que afeta, sobretudo, mulheres que são mães.
Ainda mais controversa é a proposta para enviar requerentes de asilo no Reino Unido para Ruanda, país na África Central. Tendo sido aprovada pela Câmara dos Comuns e em análise pela Câmara dos Lordes (que não tem poder decisório), a proposta passou por alterações para tentar driblar a decisão da Suprema Corte, que decidiu que a medida era ilegal por violar leis e acordos de direitos humanos. Se levado a cabo, o plano custará £1,8 milhão (R$ 11,47 milhões) por cada uma das primeiras 300 pessoas deportadas, afirmou o governo.
O cerco tem feito com que brasileiros abdiquem até de buscar serviços do Consulado aos quais têm direito, pelo temor de serem deportados.
“Eles acham que isso pode afetar sua permanência, o que não é verdade. Não é papel do Consulado avaliar se a pessoa tem ou não o visto, mas atender os brasileiros”, alega o embaixador João Alfredo dos Anjos Júnior, cônsul-geral do Brasil em Londres.
A falta de familiaridade dos atendidos com a tecnologia para preenchimento de fichas, envio de documentos e confirmações pelo sistema gov.br, passos necessários para, por exemplo, obtenção de um novo passaporte, levaram o Consulado a instalar um scanner na entrada do prédio. Há um ano, também foi criado um Espaço da Mulher Brasileira, que atende mulheres que sofreram violência, principalmente doméstica.