Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 12 de março de 2022
O casal de brasileiros que morava na Ucrânia e mobilizou o Itamaraty para uma ação de resgate dos pets em áreas de risco no país relatou que chegou a ser confundido com “infiltrados russos” durante a fuga da guerra.
Vanessa Rodrigues Granovskaya e Vladimir Granovsky moravam em Kiev havia mais de três anos e, com a invasão russa, decidiram deixar a cidade. Em suas redes sociais, a sorocabana Vanessa postou detalhes do seu trajeto até chegar ao Brasil.
O casal e seu cachorro Thor tentaram sair da capital ucraniana pela primeira vez no dia 24 de fevereiro, mas não tiveram sucesso, pois não conseguiram um carro para serem transportados até a estação de trem. Vanessa conta que, nesse dia, foi decretado um toque de recolher e que eles só podiam sair de casa às 8h do dia 28 de fevereiro.
No dia 28, o casal e o cão deixaram o local com duas malas em direção à estação de trem, na expectativa de embarcar para Lviv, cidade que faz fronteira com a Polônia. Vladimir conta que, no entanto, eles não conseguiram embarcar.
“Um policial com um fuzil foi empurrando as pessoas para deixarem passar mães e crianças. Não tinha condições de chegar nem perto da porta. Não com um cachorro e com uma esposa grávida. Desespero”, diz Vladimir. “Eu só tinha visto uma cena dessas em documentários sobre o Holocausto”, completa.
“Infiltrados”
O casal conseguiu embarcar para Lviv em uma van de um grupo de voluntários que alimentam os soldados. Chegando à cidade, foram para um apartamento de pessoas desconhecidas. Os vizinhos haviam deixado as chaves para eles. Porém, a síndica do prédio não sabia que eles se hospedariam no local.
Vanessa conta que a mulher estava nervosa com a situação, pois muitas pessoas estavam emprestando apartamentos para estranhos, e acabou se exaltando quando o marido, que é fluente em russo, começou a conversar com ela na língua.
“Ela começou a falar em ucraniano com meu marido, mas ele é fluente em russo, e a gente esqueceu que era melhor usar o inglês, e educadamente ele pediu para ela trocar o idioma. Ela soltou um comentário que ele estava falando russo em um país que está sendo atacados por russos, e ela ficou super nervosa e meu marido também”, relata.
Vladimir e a síndica do prédio começaram a discutir sobre a situação, ambos nervosos, segundo Vanessa. Nesse momento, a sorocabana começou a chorar e o marido ficou mais nervoso e disse que ela estava grávida.
Nesse meio tempo, a síndica os levou para a guarita do prédio, junto com policias, pois estava muito frio no local e o dono do apartamento enviou uma mensagem a Vladimir dizendo que no grupo do prédio as pessoas enviaram mensagens dizendo que russos estavam entrando no local.
Por fim, a síndica conseguiu entender que eles eram brasileiros e os dois conseguiram ir ao apartamento. Vanessa relata que, no momento em que entraram no local, eles choraram com a situação.
“Na hora que fechamos a porta, começamos a chorar, porque, por mais que as pessoas tivessem entendido, a gente nunca sabe e sempre tem um louco extremista. Como está todo mundo tenso, todo mundo armado, eles têm muito medo de contra espionagem, de ter infiltrados. Eu dormi mal naquela noite, foi o pico do pior dia das nossas vidas”.
No dia seguinte, a síndica ligou para o marido de Vanessa e disse para que eles encontrassem com ela pois tinha marcado um médico para Vanessa. Ela conta que, no condomínio de prédios, existe uma clínica especializada em gestantes e que foi nessa consulta que ela conseguiu ver seu bebê pela primeira vez através de um exame de ultrassom.
“Eu fico emocionada de contar isso. Eu acho que Deus me protegeu o caminho inteiro até chegar nesse ponto. Eu acabei confiando, nessa fuga toda, em pessoas completamente estranhas e que acabaram ajudando uma estrangeira. Não era para eu ter entrado naquele trem, era para as coisas terem acontecido exatamente como aconteceram. A gente foi ajudado pelos ucranianos”, conta Vanessa em suas redes sociais.
Após o mal entendido, Vanessa voltou a Sorocaba, no interior de São Paulo, na quinta-feira (10), e afirmou que quer continuar ajudando colegas que ficaram no país.
Vladimir, que continua em Lviv, criou uma vaquinha nas redes sociais para ajudar os soldados ucranianos na linha de frente com equipamento de proteção.
Ele conta que pretende arrecadar R$ 600 mil para realizar a importação de coletes a prova de balas e capacetes. Segundo ele, o dinheiro será usado apenas para compra de materiais não letais.