Quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de dezembro de 2017
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Os brasilienses estão em polvorosa. Com razão. Eles adoram cachorros. Há pessoas que têm dois, três, quatro cães em casa. Eles são como gente da família. Agora, chegou a notícia. Muitos animais estão com leishmaniose. A doença é contagiosa e, parece, sem tratamento eficaz. Que enrascada!
Os donos choram, rezam, fazem promessas. Sobretudo cercam os bichinhos de carinho. Diminutivos circulam pra cima e pra baixo. É aí que a porca entra na história e torce o rabo. Qual o plural de cãozinho? Em tempos idos e vividos, eles aprenderam que certas flexões têm manhas. Essa é uma delas. Como chegar lá?
A gramática responde. Dê três passos. Um: escreva a palavra no plural (cão, cães). Dois: tire o s (cães, cãe). Três: acrescente o sufixo -zinhos. Pronto: o plural de cãozinho é cãezinhos. Viu? Cão rima com pão. Cãozinho e pãozinho também. Cãezinhos e pãezinhos dizem amém.
Time sofisticado
Cão e pão têm companheiros no plural sofisticado. Outros diminutivos exigem as três etapas. É o caso de animalzinho (animais, animai, animaizinhos), papelzinho (papéis, papéi, papeizinhos), lençolzinho (lençóis, lençói, lençoizinhos), mulherzinha (mulheres, mulhere, mulherezinhas), botãozinho (botões, botõe, botõezinhos), florzinha (flores, flore, florezinhas).
Por falar leishmaniose…
Você sabe por que leishmaniose se chama leishmaniose? O nome vem de William Boog Leishman. O bacteriologista escocês nasceu em 1865 e partiu desta pra melhor em 1926. No meio tempo, descobriu a leishmânia — protozoário que ataca homens e animais. Pelo feito, entrou na história.
É só escolher
Há cães e cães. Há os nobres e os vira-latas. Há os grandes, os médios e os pequenos. Há os pretos, os brancos, os castanhos. Há os de pelo longo e os de pelo curto. Há os que fazem companhia e os que guardam a casa. Em suma: há variedades pra dar e vender. Uns e outros obedecem à mesma regra linguística. No plural, flexionam-se como qualquer substantivo: os labradores, os filas, os pequineses, os pastores alemães.
Sem saída
Dizem que cachorro adora osso. Mentira. Na verdade, ele não tem saída. É que não lhe dão carne.
Qualidades
Os animais têm qualidades tão marcantes que passam a simbolizá-las. O cão é fiel. A lebre, ágil. A tartaruga, lenta. A raposa, esperta. O boi, paciente. A formiga, trabalhadeira. A cigarra, irresponsável. O elefante, dono de memória ímpar. E por aí vai.
Leitor pergunta
Na era da internet, palavras estrangeiras frequentam nosso dia a dia sem cerimônia. Apesar da invasão, não sei como lidar com elas. Pode me ajudar? Celina Bastos, BH
Dica 1
Se escrita na língua original, respeite a grafia da palavra. É o caso de show, shopping, hardware, apartheid, zoom, slide, holding, marketing, joint venture, outdoor, funk.
Dica 2
Não empregue no idioma original palavras que estão aportuguesadas. São os estrangeirismos familiares — os que viram feijão com arroz. Aí perdem a cara de fora e se tornam gente nossa. Veja exemplos: uísque (não whisky), conhaque (não cognac), recorde (não record), chique (não chic), futebol (não football), caratê (não karatê), gangue (não gang), piquenique (não picnic), estresse (não stress).
Dica 3
Dê preferência à palavra vernácula. O equivalente em português (quando não for esquisito) é preferível ao estrangeirismo: pré-estreia (não avant-première), pesquisa (não enquete), cavalheiro (não gentleman), frequentador (não habitué), encontro (não meeting), padrão (não standard), desempenho (não performance).
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.