Quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de fevereiro de 2024
Em meio à repercussão nacional do caso envolvendo suposto racismo na conduta de integrantes da Brigada Militar (BM) que prenderam em Porto Alegre um motoboy negro ferido a canivete por um idoso branco, dois soldados que atenderam a ocorrência foram afastados temporariamente do trabalho nas ruas. A corporação argumenta que a medida é de precaução e para evitar estresse aos policiais.
Ambos os brigadianos foram deslocados para atividades burocráticas até o fim da sindicância determinada pelo governador Eduardo Leite. O caso também é acompanhado pela Defensoria Pública do Estado (DPE).
Em paralelo, corre uma investigação pela Polícia Civil, que deve indiciar tanto o agressor quando o agredido, por lesão corporal, já que uma troca de agressões entre ambos teria evoluído para o incidente mais grave, em uma rua do bairro Rio Branco no sábado (17). A acusação de racismo ainda é apurada, tanto por parte do idoso quanto dos brigadianos.
Entenda
O incidente foi gravado por testemunhas e gerou questionamentos sobre possível motivação racista no tratamento dado pelos policiais a cada protagonista. Nas imagens é possível ver o motoboy negro, de 40 anos, dando explicações a um dos brigadianos que atendem a ocorrência, enquanto uma policial da equipe conversa com o suposto agressor, de 71 anos e morador de um prédio a poucos metros dali.
Em determinado momento, o motoboy relata ter sido golpeado com arma branca na região do pescoço e diz que trabalha na região, mas é interrompido pelo agressor: “Não trabalha, nada!”. A vítima se irrita e acaba agarrado pela camisa por um policial, que então o pressiona contra a parede de um prédio, sob acusação de desacato. Populares tentam, em vão, alertar aos policiais de que o trabalhador é o agredido, e não o contrário.
Apesar da presença de outros três agentes, o suposto agressor sai andando do local sem ser importunado, enquanto os policiais imobilizam o homem ferido e o algemam, sob protestos de pessoas que acompanham o incidente. O agressor só é detido e também algemado por pressão de populares – antes, ele foi autorizado a pegar uma roupa em casa, acompanhado de brigadianos que não recolheram o canivete utilizado contra o motoboy.
Outro aspecto que gerou indignação foi o transporte do motoboy em um camburão da BM, enquanto o outro homem conversava tranquilamente com os brigadianos, antes de ser conduzido no banco de trás de uma viatura. Após o registro da ocorrência no posto da Palácio da Polícia, ambos acabaram liberados.
Críticas
O caso repercutiu negativamente em todo o País por meio das redes sociais. Dentre os motivos para as críticas estão a suspeita de tratamento diferenciado ao agressor, um homem branco.
Com repercussão negativa em todo País, o incidente envolvendo suposto racismo na abordagem de um motoboy negro por policiais da Brigada Militar (BM) em Porto Alegre na tarde de sábado (17) será alvo de sindicância pela corporação. A medida foi determinada pelo governador Eduardo Leite.
No domingo (18), centenas de pessoas participaram de um protesto no Parque da Redenção. O ato foi promovido pelo Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindimoto-RS) e contou sobretudo com trabalhadores da atividade.
O governador Eduardo Leite também se manifestou, determinando a abertura de sindicância pela BM. Ele salientou, no entanto, que sejam evitados “julgamentos precipitados” e “preconceito contra policiais”.
Pelo governo federal, os ministros Silvio Almeira (Direitos Humanos e Cidadania) e Anielle Franco (Igualdade Racial) acompanham o caso. Em suas redes sociais, Almeida avaliou a ocorrência como “demonstração da forma como o racismo perverte as instituições e, por consequência, seus agentes”. Ele também cobrou medidas e práticas de governança antirracista para enfrentar essa questão.
(Marcello Campos)
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