Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de dezembro de 2015
Se a capa listrada nas cores do arco-íris chamar a sua atenção, é isso mesmo: “Este Livro É Gay” não poderia ser mais gay. Quase como um manual de instruções para as diversas situações peculiares da vida de um LGBT* (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), a obra serve de boa leitura para quem é gay, para quem desconfia de que é gay e para quem não é gay e quer aumentar seu conhecimento sobre o assunto.
O asterisco representa a categoria “queer”, cuja orientação sexual e identidade de gênero não se definem por um único rótulo – algo como “nenhuma das alternativas anteriores”. O livro escrito pelo britânico James Dawson traz respostas para uma ampla gama de perguntas relativas ao universo LGBT*.
A intenção é tornar a vida de todos mais fácil, e Dawson mastiga bem algumas questões para seus leitores jovens. Está difícil contar para seus pais que você é gay? Dawson sugere o lugar, o momento certo e até as palavras a serem usadas na hora de sair do armário (“Mãe, eu queria muito conversar com você sobre uma coisa…”).
Já se deu conta de que é lésbica, gay, bissexual, transgênero ou “queer” e já falou para todos em quem você confia? Então chegou a hora de sair para paquerar. Tem esse capítulo no livro também (“Olhe nos olhos. Aproxime-se. Ofereça uma bebida. Converse, faça um elogio, dance. Pegue na mão”).
Quem paga a conta quando dois meninos ou duas meninas saem para jantar pela primeira vez? Veja lá no livro. Quer saber detalhes íntimos sobre a vida sexual de dois corpos iguais? Tem no livro. Quer ouvir a opinião de um especialista sobre por que homens gays têm grande número de parceiros? Também tem.
Argumentos para discutir com quem por acaso vier te dizer que isso não pode porque vai contra o que está escrito na Bíblia (Corão, Torá)? Estão lá também. Quer saber se não há problema em chamar sua amiga lésbica de “sapatão”? Olha lá.
O autor está certo no conselho inicial que dá aos seus leitores: leia o livro, absorva o que ele diz, veja o que serve para você – e vá viver. O primeiro passo, o mais complicado, segundo Dawson, é a autoaceitação. Depois que você já se aceitou, tudo facilita.
“Ser L, G, B, T ou * é superdivertido”, afirma ele, que acaba de mudar de posição dentro da sigla. Homem gay até os “30 e poucos anos” – isso é tudo o que ele revela –, Dawson assumiu sua identidade feminina publicamente no dia 24 de outubro, em sua conta no Twitter.
“As pistas disponíveis para mim na década de 1990 apontaram para que eu fosse um homem gay. Conforme adquiri conhecimento sobre as questões trans, ficou claro que eu tinha interpretado os sinais erradamente”, conta.
Para a versão em português – primeiro título sobre o universo LGBT* publicado pela WMF Martins Fontes –, a obra teve revisão técnica do jornalista e ativista Vitor Angelo, que adaptou o conteúdo para a realidade brasileira, incluindo nomes de pessoas e lugares com os quais o leitor nacional irá se identificar.
Angelo morreu de ataque cardíaco no dia 19 de novembro, aos 47, sem ver o livro ser lançado no Brasil. A tiragem de “Este Livro É Gay” no País é de 5 mil exemplares – a WMF Martins Fontes costuma produzir 2 mil livros em impressões iniciais.
“Acreditamos que a obra tinha potencial para ir além logo na primeira tiragem. Já vendemos 3,5 mil exemplares”, afirma Alexandre Martins Fontes, sócio-diretor da editora.
No dia 30 de novembro, foi lançada a versão em e-book, que Fontes vê como uma alternativa mais “discreta” de leitura. “Recebemos em nossa página no Facebook o relato de dois jovens contando que ficaria difícil ter o livro impresso em casa, porque a família não aceitaria a orientação sexual deles.”
“Acredito que o livro que acabamos de lançar é, acima de tudo, absolutamente necessário e que deveria ser lido por todos os brasileiros: jovens ou não, gays ou não.” (Ana Ribeiro/Folhapress)