A ideia do coronavoucher de R$ 600 por pessoa ia bem até que entrou em cena a conhecida burocracia brasileira, adotada por políticos para criar dificuldades a fim de que eles possam “vender” facilidades. O vice-presidente da Caixa Paulo Henrique Angelo foi o primeiro a deixar claro que ele só seria pago a quem, além de vários requisitos, estivesse com o CPF regular. Menos de 24h depois, houve aglomeração de milhares de brasileiros em frente a agências da Receita, todos expostos ao vírus.
Piorou tudo
O coro dos burocratas engrossou quando o ministro Onyx (Cidadania) disse que ia seguir exatamente o que prevê a lei. “CPF regular”, disse.
Mundo da fantasia
Angelo falou em usar a internet na regularização, sem se dar conta que mais da metade das pessoas das classes D e E não acessa a internet.
Mundo real
Segundo pesquisa TIC Domicílios, apenas 48% dos lares mais pobres, justamente quem vai precisar do coronavoucher, estão conectados.
Bandido até provar o contrário
Em vez da máxima de que a pessoa é inocente até que se prove o contrário, burocratas puseram preocupação com fraude acima da vida.
Empresas sobem preço de máscaras até 3.000%
Profissionais médicos estão indignados com aumentos abusivos de até 3.000% nos preços das máscaras simples. No DF, duas distribuidoras, Apolo e Brasil, elevaram o preço da caixa com 50 unidades, que era de cerca de R$ 6 em janeiro, para até R$ 192 em março. As distribuidoras culpam a fábrica, que por sua vez culpa os chineses, mas a verdade é que o preço abusivo pode inviabilizar cirurgias e outros procedimentos.
Culpa dos chineses
A Medix, importadora das máscaras, afirmou que até reduziu a margem de lucro e culpou a China: “aumentou os preços em mais de 4.000%”.
Todos iguais
A disputa por equipamentos para combate ao coronavírus também é travado em âmbito internacional com países fazendo leilão por insumos
Denúncia feita
O ministro Mandetta (Saúde) disse que há fornecedores oferecendo pagar mais caro e ainda cobrir as multas para atravessar encomendas.
Benefício amplo
É do líder do PSC na Câmara, André Ferreira (PE), o projeto aprovado ontem que descomplica o acesso dos mais pobres à tarifa especial de energia elétrica. A medida beneficiará cerca de 13 milhões de famílias.
Tititi em dia morno
Em conversa supostamente vazada, Onyx Lorenzoni e Osmar Terra concordam que Mandetta “está se achando”, o que é verdade, e o ministro da Cidadania afirma que, “se fosse o presidente”, demitiria o ministro da Saúde. Mas o presidente é outro. Noves fora, nada.
Futrica de político
Político falando mal de outro, sobretudo daquele que aparece mais, é tão comum em Brasília quanto madames futricando em salões de beleza contra as outras. Qual a importância disso? Zero. Mas anima bate-papos.
Hospitais vazios
Paciente de coronavírus em Brasília, que recebeu alta nesta quinta (9), após passagem pela UTI e tratamento à base de hidroxicloroquina, saiu impressionado: “os hospitais ainda estão vazios e ociosos”.
Máquina não erra
Sobre a validade dos dados do Covid19, ministro da Saúde diz que os dados são amparados por “comissão científica”. Marromenos: são amparados no Excel, que soma os números das secretarias de Saúde.
Lobby legislador
Há um ano, o Conselho Federal de Medicina proibiu consultas médicas virtuais, agora aprovadas no Senado. Está por trás dessas “consultas virtuais” o lobby de empresas que ganham dinheiro com prescrições médicas, vendendo dados dos pacientes a farmácias e planos de saúde.
Bolsonaro x Trump
Após muitas críticas, o governo brasileiro iniciou o pagamento do coronavoucher um pouco antes do auxílio prometido aos americanos pelo governo Trump. Se aqui a previsão é pagar todos em até 45 dias, nos EUA, há quem só vai receber o cheque, pelo correio, em setembro.
Conta não fecha
Tal como nos combustíveis, o governo promoveu a queda da taxa Selic ao menor nível da história, mas não chega ao consumidor. Segundo a Anefac, o juro médio para pessoa física subiu de 95,82% para 96,49%.
Pensando bem…
… a dupla Onyx Lorenzoni e Luiz Henrique Mandetta, ambos do DEM, não será o primeiro “casamento” que acaba por descuido com o celular.
PODER SEM PUDOR
Carcereiro gentil
Preso em 1964, Francisco Julião, das Ligas Camponesas, foi metido num cubículo da 2ª Companhia de Guardas, no Recife. Ele não passava bem e um oficial do Exército chamou um médico, que prescreveu apenas alimentação decente. Gentil, todos os dias o militar “contrabandeava” um litro de leite para Julião. E ainda lhe fez uma surpresa: levou-o para o banho, certo dia, para um inesperado encontro com outro preso político, Paulo Freire. Trocaram abraço, palavras, força. O oficial, o alagoano Carlito Lima, relatou a história em seu livro “Confissões de um capitão” (Garamond, Rio), prefaciado pelo ex-líder estudantil Vladimir Palmeira.
Com André Brito e Tiago Vasconcelos