A situação inédita vivida no Rio Grande do Sul exige a formação de um gabinete de crise, com sede no Palácio Piratini, tendo a participação de representantes de amplos setores da sociedade. Na mesa do diálogo, muitos dados, mapas e projeções. É o que está faltando. O mesmo vale para o governo federal.
Chega de sufoco
A era do individualismo e das soluções solitárias, numa espécie de “quem manda aqui sou eu”, vai levar a uma situação pior do que já vivem municípios, estados e o país.
Quanto mais opiniões, melhor
Gabinete de crise significa a busca do bom senso, conceito ligado às noções de experiência e razoabilidade. Só dessa forma é possível adequar regras e costumes à realidade, pesando consequências.
Não se trata de chegar a conclusões unânimes, mas de pôr na balança todos os ingredientes para que seja indicado o melhor caminho.
Correu na frente
O exemplo foi dado esta semana pelo governo de Minas Gerais: criou um comitê de emergência para enfrentar a crise em conjunto com a sociedade e adotar medidas que minimizem os impactos causados pelo novo coronavírus. A iniciativa foi tomada após a leitura de estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, que mostra pesados prejuízos na Economia.
Dilema vai persistir
A paralisação de todas as atividades é uma decisão que busca preservar vidas, em função da violência e da rapidez de propagação da pandemia. Não há produção nem salários. A única certeza, no campo econômico, é o desemprego. Cairá a arrecadação de impostos, prejudicando mais ainda a prestação dos serviços públicos.
O que interessa agora
A guerra política entre o presidente Jair Bolsonaro e a maioria dos governadores é completamente fora de hora. Significa deixar o interesse público em segundo plano para afirmar apenas convicções pessoais. O cenário lembra a luta entre o mar e rochedo em que só há um perdedor: o marisco. Nesse caso, o povo.
Acertou no alvo
Declaração do senador Fernando Henrique Cardoso em 1990, que se encaixa nos dias de hoje: “O Brasil é o país que substitui o inevitável pelo inesperado.”
Espiral
O ministro da Economia, Paulo Guedes, no começo da pandemia, projetou o desembolso de 80 bilhões de reais para socorrer os atingidos. Ontem, revisou: passará de 700 bilhões.
Fabricantes de barreiras
Em 1980, o professor e cientista Albert Sabin enviou carta ao presidente João Figueiredo, comunicando que deixava a assessoria prestada ao governo no combate à poliomielite. O criador da vacina contra a moléstia justificou: 1º) os levantamentos do Ministério da Saúde não eram confiáveis. Havia muito mais crianças infectadas do que os dados divulgados; 2º) as recomendações que dava se perdiam nos descaminhos burocráticos.
Teia do anacronismo
Mesmo elogiando o trabalho de homens e mulheres competentes e devotados, defrontar-se com funcionários que diziam não a qualquer pedido, sem justificar, era humilhante para Sabin. Passados 40 anos, em muitos escalões o vírus da burocracia segue se espalhando.
Descarte oportuno
A Receita Federal tomou a iniciativa elogiável de revogar 126 instruções normativas, publicadas entre 1969 e 2016, que não produziam mais efeitos legais. A lista saiu no Diário Oficial da União, quinta-feira.
Se outras áreas do setor público seguirem o mesmo caminho, o país romperá com os grilhões burocráticos que custam caro e resolvem pouco.
Deve ampliar
Interessados em trocar de partido pedem à Justiça Eleitoral que prorrogue o prazo de 3 de abril para janela partidária. Alegam que a quarentena atrapalhou os planos para consultas. Têm razão.
Materiais incompatíveis
As utopias gravadas por candidatos no mármore não combinam com o concreto do poder.