Domingo, 17 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de fevereiro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Cada mulher tem o poder de inspirar outras a ocuparem seus espaços nas empresas, nas organizações, nas entidades, na política. Como prefeita, sei do meu papel de incentivadora e encorajadora de outras mulheres, seja pelas políticas públicas que implemento na minha cidade quanto pelo exemplo da minha conduta. Isso amplifica minha responsabilidade, mas também me motiva a trabalhar ainda mais.
Infelizmente, a maioria dos ambientes ainda é muito desigual para nós. Somos mais da metade da população, mas ainda poucas em funções de liderança em vários segmentos. Para exemplificar, na política, minha área de atuação atual, são apenas 12% de prefeitas nas 5.570 prefeituras brasileiras. Nas cidades com mais de 100 mil habitantes, como Novo Hamburgo, somos apenas 21 em todo o Brasil. Nas câmaras municipais e assembleias legislativas, em geral, somos no máximo 15% dos parlamentares.
Como cidadã, empreendedora, arquiteta urbanista e prefeita, quero uma sociedade equilibrada e que trate a mulher como ela merece: com respeito, proteção e igualdade de oportunidades. Essa é uma meta pessoal diária que começou bem antes de eu ocupar a cadeira de prefeita, quando fui a primeira mulher a comandar uma grande entidade empresarial no Rio Grande do Sul, a Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACI) de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha, que tinha, na época, 1.250 empresas associadas.
Desde que entrei na política, em 2016, percebo uma evolução lenta, porém, constante, na participação feminina. Cada vez mais mulheres estão colocando seus nomes à disposição de suas comunidades para disputar eleições e buscar mudanças reais. Nas prefeituras, também cresce o número de mulheres que comandam secretarias e empresas públicas, sinal de que os tempos são outros. Nos últimos anos, vivi dois momentos pessoais muito representativos que retratam isso. Em 2021, fui incluída na lista das 50 líderes globais em governança ágil e disruptiva pelo Fórum Econômico Mundial. Em 2019, fui a única prefeita gaúcha a vencer o Prêmio Nacional Sebrae Prefeito Empreendedor.
Às vezes, é difícil perceber os pequenos avanços do dia a dia, mas estamos evoluindo na igualdade de gênero. Nossas antepassadas lutaram muito para mudar mentalidades e romper barreiras. Um exemplo disso foi o voto feminino, um direito que está prestes a completar 90 anos no Brasil. Aos olhos de hoje, parece absurdo que ali atrás foi preciso lutar pelo simples direito de votar e ser votada. Nos tempos atuais, ainda precisamos nos defender da violência doméstica, do feminicídio, do assédio, da falta de oportunidades e das desigualdades no ambiente profissional.
Toda mulher sabe dos obstáculos a que me refiro. Nós, mulheres, temos as mesmas potencialidades dos homens, mas precisamos, diuturnamente, comprová-las. Somos fortes, batalhadoras e competentes nos mais variados papéis que desempenhamos na sociedade, mas pensamos e nos emocionamos de forma diferente. Não somos nem mais nem menos do que os homens, mas diferentes.
Apesar de conhecer a dura realidade das mulheres, sou otimista. Eu acredito que o esforço individual de cada uma de nós é que vai transformar o mundo. As grandes ações são importantes, claro, mas é a partir de cada pessoa que as realidades se transformam. É a partir da nossa conduta pessoal, da participação e do envolvimento com quem está ao nosso alcance que iremos construindo o mundo que queremos.
Entendo que, se quisermos mudar as coisas de verdade, precisamos nos envolver. Na política, entendo que, quando a mulher não ocupa seu lugar, ninguém o ocupa. Para ilustrar isso, eu gosto de repetir uma célebre frase da ex-presidente chilena Michelle Bachelet: “Quando uma mulher entra para a política, muda a mulher. Quando muitas entram, muda a política.” Frase perfeita para demonstrar o poder que temos quando decidimos fazer parte de algo para mudar realidades. Temos nossa própria visão de mundo e só nós sabemos das dores de ser quem somos. Com nossas vivências, experiências e qualificação, temos todo o potencial para contribuir em nossas famílias, empresas, municípios, Estados e país. E disso não abrimos mão.
Fátima Daudt, prefeita de Novo Hamburgo
Convidada especial – Divisão Jovem da Federasul
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.