Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 30 de setembro de 2016
Barata, ao alcance da mão e para todos os gostos. A pornografia na era digital faz a alegria de muitos, mas cada vez mais vem criando problemas para jovens e adultos. Especialistas em sexualidade apontam um aumento no número de viciados em conteúdo pornô e na masturbação devido ao acesso fácil pela internet e à privacidade que o celular e o tablet proporcionam.
Os jovens são os mais suscetíveis a desenvolver a dependência e já estão sendo chamados de autossexuais – pessoas para quem o prazer com o sexo solitário é maior do que pelo método, digamos, “tradicional”. “Eles começam a atividade sexual sem parceria, em frente a um vídeo no qual escolhem tipo físico e idade de todas as variedades imagináveis. Isso é muito sedutor”, explica a sexóloga Carmita Abdo. “Os meninos aprendem muito na internet, o que não é didático, porque são corpos e posições irreais, atividades sexuais mais agressivas que a média. Eles correm o risco de achar que é o padrão”, destaca o psiquiatra Alexandre Saadeh.
Parte deles enfrenta perda do desejo sexual e disfunções, como falta de ereção ou ejaculação, e muitos têm uma visão distorcida sobre o próprio corpo ou desempenho sexual. Isolamento e insatisfação nos relacionamentos também são relatados nos consultórios.
Dependência da pornografia.
Alexander Rhodes, 26, ex-analista de dados do Google, se tornou o porta-voz dos dependentes de pornografia com o site NoFap, criado para ajudar pessoas que desejam largar o vício. Sua história mostra como o problema pode começar cedo. Por volta dos 11 anos, ele clicou em um banner e caiu em um site de conteúdo adulto. Não parou mais. Rhodes contou, em entrevista ao jornal The New York Times, que chegava a se masturbar até 14 vezes diante da tela por dia na época da faculdade.
A facilidade de acesso à pornografia e o tabu que ainda envolve a sexualidade está transformando o pornô na base da educação sexual dos jovens de hoje, segundo os especialistas, com uma série de efeitos indesejados.
De um lado, as famílias delegam a tarefa à escola, que aborda o tema quando as crianças já tiveram acesso à pornografia ou mesmo iniciaram a vida sexual. Deixar para conversar com os filhos na adolescência, alerta Saadeh, é um erro. “Tem que começar a acompanhar desde criança, saber quem é o filho, discutir o tema”, orienta.
Na fase seguinte da vida também há problemas. Os jovens temem parecer inexperientes e não corresponder às expectativas. “Quando existe vínculo afetivo entre os parceiros é mais tranquilo, mas é cada vez mais comum o sexo sem intimidade”, diz Carmita.
Sinais de alerta.
É importante ressaltar que não são todos os jovens conectados que correm risco de dependência. “Há aqueles que assistem hoje, se masturbam e não voltam amanhã”, expõe Carmita. Entre os sinais de alerta estão a angústia em relação ao uso e a restrição da capacidade de interação. “Se o indivíduo não se incomoda, paciência”, diz.
Para Saadeh, nos casos em que a situação sai do controle uma única conversa com um especialista pode ser suficiente. “Sexo é para ser uma boa experiência. Se não for, ou tem algo diferente em mim ou preciso aprender alguma coisa.” (Folhapress)