A Caixa para Bebês Safe Haven (Refúgio Seguro), instalada em um quartel de bombeiros do Estado de Indiana, lembra um recipiente para devolução de livros de uma biblioteca. Ela estava no local há três anos para quem quisesse abandonar um recém-nascido anonimamente, mas nunca havia sido usada até abril. Quando o alarme soou, o bombeiro Victor Andres abriu a caixa e encontrou, incrédulo, um bebê enrolado em toalhas. A descoberta chegou ao noticiário local, que celebrou a coragem da mãe.
Depois, no mesmo mês, veio a segunda criança, uma menina. Em maio, veio o terceiro bebê. Ao longo do verão, três outros recém-nascidos foram abandonados em caixas semelhantes ao redor do Estado.
As caixas de depósito para bebês – que lembram as chamadas “rodas dos expostos”, instaladas nos muros de conventos de Portugal e do Brasil até meados do século XX para receber anonimamente nenéns abandonados – fazem parte do movimento Safe Haven, que é associado ao ativismo antiaborto. Elas oferecem a mães desesperadas diversas maneiras de dar seus recém-nascidos anonimamente para adoção, sem ferir ou matá-los, argumentam os defensores. Tradicionalmente, as caixas ficam em hospitais ou quartéis de bombeiros, onde há pessoal treinado para realizar o atendimento.
Todos os 50 Estados norte-americanos têm leis que protegem mães que pretendem deixar seus filhos para a adoção nesses refúgios seguros, que não se limitam às caixas. A primeira do tipo foi aprovada no Texas em 1999, após vários casos de mulheres abandonando recém-nascidos em latas de lixo. No entanto, o que começou como uma maneira de prevenir os casos mais extremos de abandono infantil passou a ser apoiado pela direita religiosa, que defende a adoção como alternativa ao aborto.
Nos últimos cinco anos, mais de 12 Estados norte-americanos aprovaram leis permitindo a instalação ou a ampliação desses programas de refúgios seguros. Segundo especialistas em saúde reprodutiva, a prática deverá se tornar mais comum com o fim da proteção constitucional ao aborto, decidido em junho pela Suprema Corte dos EUA.
No julgamento em questão, a juíza Amy Coney Barnett chegou a mencionar as leis de refúgio seguro como uma alternativa ao aborto durante seu voto. Na decisão, o juiz Samuel Alito citou a legislação como um “desenvolvimento moderno” que evita a necessidade do aborto.
No entanto, para especialistas em adoção e em saúde da mulher as caixas de bebês estão longe de ser uma panaceia. Segundo eles, quando são usadas, é sinal de que a mulher não recorreu ao sistema de apoio. Elas podem ter escondido a gravidez ou ter dado à luz sem atendimento pré-natal. Podem também ter sido vítimas de violência doméstica, vício em drogas ou doença mental.
A Aliança Nacional Safe Heaven estima que 151 entregas legais de bebês aconteceram em 2021. Em anos recentes, foram registradas no país 100 mil adoções e 600 mil abortos.