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Calores femininos

Após os 30 anos já se começa a ter perda de massa muscular de forma espontânea, após os 40 essa perda passa a ser entre 5 e 8% por década. Após os 70 anos, pode ser de até 10%. (Foto: Reprodução de internet)

A chegada da menopausa é a fase das ondas de calor alternadas com arrepios de frio, diminuição da libido, ressecamento e flacidez da pele, queda de cabelo, astenia, secura vaginal, irritação, labilidade emocional, depressão e ansiedade.

Embora a maioria experimente esse cortejo de sintomas, para algumas mulheres eles são de pequena intensidade, às vezes quase imperceptíveis. Em compensação, há casos em que são devastadores.

As ondas de calor são um suplício à parte. Em geral acompanhadas de vermelhidão no rosto e sudorese intensa, molham a roupa em momentos inadequados, criando constrangimento social. São amigas da noite e inimigas do sono reparador. Há mulheres despertadas por elas cinco, seis vezes durante a madrugada.

Com intensidade variável, esses sintomas vasomotores afligem 80% das mulheres. Por incrível que pareça, a duração desse fenômeno tão prevalente era mal conhecida, porque até aqui os estudos envolveram número pequeno de participantes acompanhadas por períodos curtos.

Nesta semana, foi publicado na revista americana “Jama Internal Medicine” o estudo mais completo sobre o tema: “Study of Women’s Health Across the Nation (SWAN)” – em português, estudo nacional sobre a saúde da mulher.

No período de fevereiro de 1996 a abril de 2003, foram analisadas 1.499 mulheres na perimenopausa (fase que antecede a menopausa), recrutadas em sete centros dos Estados Unidos. Só foram aceitas as que haviam apresentado pelo menos seis episódios vasomotores nas duas últimas semanas e que nunca tinham feito reposição hormonal.

Em apenas 20% dos casos, os calores só começaram depois da parada das menstruações; em 66%, o início foi no período em que as menstruações se tornaram irregulares e, em 13%, surgiram ainda na vigência de ciclos regulares.

A enorme surpresa provocada por esse estudo multiétnico e multirracial foi mostrar que pode ser longo esse período da condição feminina.

A mediana de duração das ondas foi de 7,4 anos. Quer dizer, em metade das mulheres não atingiu esse tempo; na outra metade, ultrapassou-o. Nos casos mais extremos, persistiram por 14 anos.

Outro achado original e inesperado: quanto mais cedo as ondas chegam, mais tempo levam para ir embora. Naquelas pacientes em que os primeiros calores surgiram na pré-menopausa ou na fase em que os ciclos estavam irregulares (perimenopausa), a duração média ultrapassou 11,8 anos. Já nas que não menstruavam mais, quando eles se instalaram, foi bem menor: 3,4 anos.

A explicação mais provável está nas diferenças de sensibilidade dos centros de regulação térmica (situados no hipotálamo) à redução dos níveis de hormônios sexuais na circulação. Mulheres com sensibilidade exaltada apresentam sintomas mais precoces, por mais tempo.

As diferenças entre os grupos étnicos foram significantes: mulheres negras: 10,1 anos; latino-americanas brancas: 8,9 anos; brancas não latino-americanas: 6,5 anos; e asiáticas: cinco anos.

As razões para a variabilidade étnica não são conhecidas – podem estar relacionadas com a genética, as dietas e com a história reprodutiva.

As participantes em que os sintomas foram mais persistentes tenderam a ter menos anos de escolaridade, maior percepção do estresse e a ser mais depressivas e ansiosas.

Não está claro se a labilidade emocional e o estresse são causas ou consequências das ondas. Mulheres com vidas mais estressantes teriam percepção exaltada dos sintomas e sentiriam mais incômodo. Por outro lado, acordar diversas vezes durante a noite é causa importante de estresse.

A mesma ambiguidade entre causa e efeito cabe à relação com depressão e ansiedade: nas deprimidas e ansiosas, os sintomas persistem por mais tempo ou são causadores de depressão e ansiedade.

O estudo SWAN tem sido muito elogiado no ambiente científico. Com razão, é a pesquisa mais completa sobre a duração dos fenômenos vasomotores.

O que me causa espanto é que só em 2015 ficamos sabendo que eles duram em média mais de sete anos, tempo que pode chegar a 14 anos e a mais de 11 anos nas mulheres que começaram a senti-los enquanto ainda menstruavam.

O desconhecimento enciclopédico desse aspecto da fisiologia humana só tem uma explicação: acontece com as mulheres.

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