Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 27 de novembro de 2019
Edson Bündchen, mestre em Administração de Empresas
Foto: DivulgaçãoEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Muito se debate hoje sobre o papel do governo na economia. Deve ou não o governo intervir e apoiar diretamente empresas dentro de um projeto estratégico para o País?
Governos muitas vezes são tomados por ataques de voluntarismo , o que, salvo raras exceções, resultam em retumbantes fracassos. No Brasil, tivemos o exemplo com as chamadas “campeãs nacionais”, iniciativa que buscava inserir competitivamente no cenário global algumas empresas brasileiras selecionadas pelo Governo . O apoio ocorria principalmente através de crédito junto ao BNDES, com juros subsidiados.
Pensava-se, à época, que poderia haver sinergias importantes que beneficiassem a nossa economia, particularmente com maior inserção mundial, obtendo-se ganhos que repercutiriam sobre toda a nossa indústria.
Não foi isso que ocorreu, pelo menos não exatamente como havia sido planejado. As empresas X , do empresário Eike Batista, e a JBS, para tomar apenas dois exemplos, tiveram problemas que degeneraram em corrupção na interação com o setor público.
Eike Batista acabou sendo preso, acusado de corrupção, e os irmãos Batista se envolveram no polêmico caso do grampo ao ex-presidente Temer, com reflexos muito negativos para a imagem do grupo JBS. É importante destacar, considerando o fracasso da estratégia das campeãs nacionais adotadas pelo governo Lula , que a criação de competidores de nível global está muito além do voluntarismo dos governos, pois resultam, na maioria dos casos, em padrões negativos de concorrência, uma vez se basearem em fatores de incentivo não acessíveis aos demais competidores.
Esse tipo de intervenção depõe contra o modelo de livre mercado e enfraquece a economia como um todo por suscitar desconfianças dos agentes em relação às regras de competição. Uma estratégia mais consistente deveria partir, não de escolhas ao gosto do governo de plantão, mas de um profundo estudo e compreensão de quais setores apresentam maior potencial para gerar algum tipo de vantagem competitiva ao País.
Nessa abordagem, quando as empresas ou grupos emergem no cenário global, geralmente fazem parte de uma inserção a partir de complexas cadeias globais, construídas dentro de amplo espectro de parcerias e competências centrais desenvolvidas por essas organizações, podendo sim contar com apoio e incentivos setoriais, a exemplo do que já fizerem e ainda fazem muitos países.
No Brasil, o modelo acabou naufragando por falta desse entendimento sobre o funcionamento e dinâmica dos mercados. Assi , mais do que buscar a indução direta a possíveis vencedores, cabe ao governo esforço intenso e direcionado para a criação de um confiável ambiente legal, tributário e de infraestrutura.
Infelizmente, ainda pecamos gravemente nessas frentes, porém nada é impossível para um país que há menos de 100 anos era uma economia de menor grandeza e hoje figura entre às 10 maiores do mundo.
* Edson Bündchen, mestre em Administração de Empresas
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.