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Candidato favorito da presidência na Argentina faz aceno de paz a Bolsonaro

Alberto Fernández e Cristina Kirchner após vitória nas primárias. (Foto: FrenteDeTodos/media/Fotos Públicas)

O líder de centro-esquerda e vencedor das eleições primárias argentinas no último dia 11, Alberto Fernández, decidido a aliviar as tensões com o governo do Brasil, país que considera central para a estratégia de desenvolvimento da Argentina, colocou um freio no confronto com o presidente Jair Bolsonaro e enviou uma mensagem de estabilidade à toda região. As informações são do jornal O Globo.

“Não se preocupem, porque não penso em fechar a economia”, afirmou ao jornal “La Nacion”.

A declaração é uma resposta à ameaça feita pelo mandatário brasileiro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o Brasil deixaria o Mercosul caso o próximo governo argentino — um governo de Cristina Kirchner, disseram — decida fechar a economia.

“Para mim, o Mercosul é uma questão central. E o Brasil é nosso principal parceiro e continuará sendo. Se Bolsonaro pensa que eu vou fechar a economia e que, então, o Brasil vai sair do Mercosul, que fique tranquilo, porque não penso em fazer isso. É uma discussão burra”, disse o candidato da Frente de Todos.

Na mesma linha, afirmou ainda que não é contra o Mercosul estabelecer acordos comerciais com outros blocos. Mas advertiu que deve fazê-lo protegendo os interesses nacionais:

“Meu problema não é que a economia se abra. Meu problema é que essa abertura prejudique os argentinos. Se for aberta preservando os argentinos, que seja bem-vinda.”

A questão trabalhista

Depois da vitória que o deixou às portas da Casa Rosada e o alçou a virtual presidente eleito, Fernández se mostrou disposto a aceitar a flexibilização dos acordos trabalhistas, caso exista acordo com os sindicatos.

“O que for decidido em convenção é uma decisão da empresa e dos trabalhadores. O que não quero é colocar regras gerais de flexibilização. Nem tudo é igual”, afirmou ao abordar alguns dos temas que discutiu na quinta-feira com o dono do Mercado Livre, Marcos Galperin, grande defensor da reforma trabalhista.

Com um olho nas eleições de 27 de outubro e outro na transição de mandato, em 10 de dezembro, o candidato da Frente de Todos insistiu que o atual presidente, o liberal Mauricio Macri, deve renegociar com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para conseguir um adiamento dos vencimentos das parcelas dos empréstimos feitos pelo organismo previstas para os próximos anos:

“O governo firmou um acordo impossível de cumprir e não cumpriu nada. Não cumpriu as metas de inflação, de crescimento e das metas fiscais. O que Macri tem que fazer é voltar a se encontrar com o Fundo e explicar por que não cumpriu nada. Porque, se não, é preciso assumir o que vem de todos os seus descumprimentos.”

Fernández disse que espera que a próxima missão do FMI peça sua opinião sobre as condições do próximo desembolso, de US$ 5,4 bilhões, e reiterou que é “impossível” que sejam cumpridas as datas de pagamento.

A única solução que aparece é adiar as datas — afirmou, antecipando a posição que terá nessa negociação, que lembra o papel que teve quando foi chefe de Gabinete do ex-presidente Néstor Kirchner, entre 2003 e 2007.

Em outro ponto em comum com aquela gestão, o ex-chefe de Gabinete antecipou que, chegando à Presidência, aplicará uma política de “flutuação administrada” do dólar, e repetiu que o nível atual da moeda americana é adequado. Mas se distanciou da desvalorização.

“Quando disse que a 60 pesos o dólar estava bem, ele estava caminhando a 67 ou 68. Disse que um dólar por 60 estava recebendo a queda que a divisa havia tido diante da inflação. Nesses termos, o dólar por 60 pesos soa razoável. Um dólar por 60 pesos é um dólar que torna competitiva a produção e que torna as exportações possíveis.”

Um posto chave

Quem poderia ser o homem que, desde o Ministério da Economia, se encarregaria de levar adiante essas políticas? O candidato guarda o nome. Não quer submeter esse eventual funcionário a um desgaste de quatro meses. É descabido pensar que pode oferecer o cargo ao ex-ministro da Economia Roberto Lavagna [no governo Néstor Kirchner (2003-2007)]?

“Não é descabido, sempre lamentei que tenha saído do governo de Kirchner. Mas o que não sei é o que o Lavagna quer fazer”, afirmou ao jornal “La Nacion”.

Na entrevista, Fernández reiterou sua preocupação com os efeitos que podem ter as medidas de alívio recém-anunciadas pelo presidente Macri sobre a inflação e nas contas fiscais das províncias.

“Essas medidas, ainda que estejam de acordo com o objetivo, devem ser debatidas com as províncias, porque a desordem que gera para elas é enorme. Faço esse pedido porque fazem isso sem discutir com as províncias.”

Fernández também não se comprometeu a manter o congelamento do preço dos combustíveis sem um acordo com os setores afetados.

“As medidas que o Macri anunciou não podem ser tomadas assim, sem falar com ninguém.”

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