A disputa política das eleições presidenciais de 2018 não deve se repetir nas urnas em 2020, mesmo que o ‘clássico’ que tenha dividido famílias, amigos e até casais ameace uma espécie de reedição. Afinal, no pleito deste ano, em todo o país, o nome Bolsonaro será usado por 91 candidatos e o de Lula, por 200. Todos prometem, claro, bater um bolão nas urnas.
Na avaliação de especialistas, esse é um movimento natural de quem quer aproveitar para receber o passe de nomes já consagrados da política brasileira e ficar na cara do gol. No entanto, nas eleições municipais, a estratégia não tende a ser tão bem-sucedida, com uma possível exceção nas grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, que também passam por pautas nacionais. “A polarização fica em segundo plano porque as pessoas costumam votar mais em função das questões do município. Só uma pequena faixa do eleitorado se move por esse sentimento bolsonarista ou petista”, afirma Paulo Baía, cientista político e sociólogo da UFRJ.
Na opinião dele, essa estratégia não é garantia de fazer o eleitor vibrar nas urnas. Longe disso: “O candidato a usa porque tem uma ideia de que fala para um público específico. Isso é muito comum em vereadores e deputados estaduais. A pessoa que faz isso tem uma intenção e uma crença de que ajudará. Efetivamente, não ajuda. Não é insignificante, mas pode até atrapalhar”.
A verdade é que os nomes Bolsonaro e Lula se tornaram marcas muito fortes no universo político. Estão na boca do povo, em qualquer bate-papo ou, óbvio, discussão. Talvez por isso muitos candidatos queiram abrir uma espécie de ‘franquia’. Para a consultora política Fernanda Galvão, é até possível jogar esse jogo, mas não se deve achar que seja o suficiente para golear nas urnas: “A transferência de voto não é automática”, adverte. “O candidato deixa claro o posicionamento político, mas precisa bem mais do que isso. É preciso mostrar o seu lado na disputa e na campanha”.
Ao melhor estilo do craque português Cristiano Ronaldo, que adora aparecer no telão de um estádio, ela aconselha uma atenção especial com a imagem: “A identidade visual ajuda a sair do lugar-comum. Outro cuidado que todos devem ter é em relação a um bordão marcante ou a um ótimo jingle, principalmente em municípios menores. É necessário ser notado e reconhecido para ficar na cara do gol do mandato. “O candidato tem que ganhar relevância. A familiaridade do nome faz mais sucesso do que um bom programa de partido”, conclui Fernanda Galvão.
E, pra quem pensa que a disputa eleitoral se restringe ao duelo Bolsonaro x Lula, um aviso: O ‘clássico’ já ganhou proporções internacionais, rompendo fronteiras, mas mantendo a enorme polarização. Nas eleições municipais deste ano, estão registrados três Trumps e 19 Obamas. Com a bola, o eleitor.
No jogo político das eleições municipais do Rio, dois candidatos à prefeitura disputam explicitamente o voto e a identificação com o eleitor de Jair Bolsonaro: o deputado federal Luiz Lima e o atual prefeito Marcelo Crivella, que tenta se reeleger.
Lima, do PSC, integra no Congresso Nacional o time da base de apoio do presidente Jair Bolsonaro, seu ex-companheiro de legenda. Crivella veste a camisa do Republicanos e tem como colegas o senador Flávio Bolsonaro, o irmão, o vereador Carlos Bolsonaro, candidato à reeleição, e a mãe deles, Rogéria Bolsonaro, que também tenta uma vaga na Câmara Municipal.
Do lado do ex-presidente Lula, está Benedita da Silva, de longa carreira política no PT. Filiada ao Partido dos Trabalhadores, Benedita mostrou ser uma espécie de curinga e jogou nas 11: exerceu, desde 1982, mandatos como vereadora, deputada federal, senadora e governadora, além de ter sido ministra. Agora, tentar ser prefeita. É um nome histórico do PT e de grande entrosamento político com Lula, técnico e uma espécie de dono das camisas.