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Colunistas Capitalismo de inclusão

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O capitalismo precisa de mais e não menos Estado. A afirmação não tem diretamente a ver com as últimas barbeiragens das concessionárias de energia elétrica, recentemente privatizadas em São Paulo e no Rio Grande do Sul, que deixaram milhares de consumidores irritados com a falta de eficiência das companhias. Tampouco toca no rumoroso escândalo das Lojas Americanas e seu rombo bilionário, após anos de contabilidade criativa. Também não envolve o sucesso de estatais como a Embraer, ou o portento em que se converteu a Petrobras, seu prejuízo histórico por ocasião da operação Lava Jato e a polêmica atual acerca da distribuição de dividendos da empresa. De fato, o que se propõe aqui é uma abordagem que supere a discussão entre um Estado onipresente e um Estado mínimo. O debate nesses termos emperrou e qualquer avanço que considere as transformações que hoje sacodem o mundo passam, necessariamente, por um conjunto diferente de premissas a serem consideradas.

Nesse sentido, o livro “Missão Economia”, escrito por Mariana Mazzucato, professora de economia da inovação no University College, de Londres, nos traz uma perspectiva menos sectária acerca das possibilidades que se abrem no campo da discussão entre liberais e intervencionistas. Se Margaret Thatcher e Ronald Reagan entusiasmaram os adeptos do “estado mínimo”, há algumas décadas, a salvação pelo Tesouro Americano das empresas “grandes demais para quebrar” na crise do “subprime”, em 2008, e os aportes trilionários durante a pandemia da Covid-19, sepultaram qualquer ilusão sobre os poderes do “Deus Mercado”, particularmente na hora do aperto, quando até o mais devotado libertário não encontra nenhum pudor em bater às portas do Tesouro.

É tempo, segundo Mazzucato, para mais ousadia e experimentação no enfrentamento aos maiores problemas do nosso tempo. Desafios como aqueles relacionados ao clima, saúde, controle de pandemias, desemprego estrutural potencialmente advindo de novas tecnologias e da Inteligência Artificial, além das questões que envolvem a segurança do planeta não serão bem encaminhados a partir do mesmo modelo mental de sempre. As inovações, portanto, extrapolam os limites tecnológicos, abarcando mudanças sociais, organizacionais e políticas. Trata-se, assim, de uma ampla e inédita orquestração, através de políticas públicas focadas em resultados colaborativos, e não mais reféns da visão antagônica entre governo e setor privado. Em ação coordenada, problemas complexos terão melhor chance de serem superados, descortinando uma visão de longo prazo para assegurar mudanças que estejam em linha com o interesse público, em seu mais elevado nível.

Essa nova gramática para desafiar a miopia que impede um avanço mais efetivo das políticas públicas contém doses importantes de ambição e visão em suas formulações. O propósito público, nessa perspectiva, deve situar-se no centro de como se cria riqueza coletivamente para promover um alinhamento mais forte entre criação e distribuição de valor, com maior sensibilidade no reconhecimento das abissais diferenças de renda que impedem que o capitalismo seja mais inclusivo. Mesmo sendo uma tarefa gigantesca, a reengenharia do atual sistema capitalista deverá ser capaz de superar a ideologia equivocada que se infiltrou em nossas expectativas do que realmente pode ser feito. Um ator que atua com tamanho arco de operações, investindo, tributando, regulando e subsidiando não deve se eximir de capitanear as transformações que a nova economia nos impõe.

Com efeito, as novas tendências que atualmente atingem as organizações privadas, sugerindo visões imbuídas de propósitos que vão além do interesse imediato dos acionistas, juntamente com governos que precisam se reinventar diante do quadro de impermanência e instabilidade que se converteram no “novo normal”, podem empurrar a atual dicotomia entre público e privado para um novo paradigma, com o capitalismo de inclusão tomando o lugar, mesmo que gradativamente, do capitalismo de exclusão que hoje impera.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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