Sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Porto Alegre
Porto Alegre, BR
26°
Fair

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Cinema Carisma e momento político: entenda por que “Ainda estou aqui” foi indicado ao Oscar de melhor filme

Compartilhe esta notícia:

Além de uma obra excepcional, filme de Walter Salles se favoreceu do carisma de Fernanda Torres. (Foto: Divulgação)

Há duas formas de explicar a indicação de “Ainda estou aqui” para melhor filme no Oscar 2025, um feito raríssimo para o Brasil. Uma curta e uma longa.

A explicação curta: o filme de Walter Salles é excepcional.

Já a explicação longa passa pelo carisma de Fernanda Torres, pelas reações contrárias a seu “principal rival” na categoria de filme internacional, por seu caráter político num momento em que até bispas só falam de política e pelo orçamento investido pela Sony Classics para convencer os mais de 10 mil eleitores do Oscar. Para muita gente pareceu surpresa a indicação para melhor filme — além de melhor filme internacional e melhor atriz —, mas não foi bem assim.

A trajetória de “Ainda estou aqui” começou no Festival de Veneza, em setembro, de onde saiu vencedor do prêmio de melhor roteiro, para Heitor Lorega e Murilo Hauser. Depois, estreou no Brasil com sucesso e passou a percorrer festivais ao redor do mundo. A empresa que cuida da sua distribuição internacional é a Sony Classics, uma divisão da Sony fundada em 1992 para filmes independentes. Algumas dúzias de produções que todos nós adoramos foram apoiadas e fizeram sucesso pelo investimento da Sony Classics. É uma lista que vai de “O tigre o dragão” (2000) e “Fale com ela” (2002) até “Relatos selvagens” (2014) e “Me chame pelo seu nome” (2017). Não por acaso, “Central do Brasil”, de 1998, também de Walter Salles e também com indicações ao Oscar no currículo (atriz para Fernanda Montenegro e filme estrangeiro), foi distribuído pela Sony Classics.

Desde que percebeu que “Ainda estou aqui” tinha chances, então, a campanha da Sony Classics se intensificou demais, focada em quatro categorias: melhor filme internacional, melhor atriz para Fernanda Torres, melhor roteiro adaptado e melhor filme. As duas primeiras pareciam bem possíveis, ainda mais depois do resultado do Globo de Ouro, que escolheu Fernanda como melhor protagonista de drama. As duas últimas soavam como um sonho distante.

Campanha, no caso de Hollywood, começa por programar sessões e mais sessões especiais para que os eleitores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA, que organiza o Oscar, assistam ao filme. Se alguém não conseguir ir, tudo bem, eles mandam um link secreto para ver em casa — afinal, candidato que não é conhecido não recebe votos. A empresa gasta uma boa quantia em publicidade para lembrar que seu filme existe e que ele merece um voto. Muitos desses anúncios vêm com uma frase no alto: “For your consideration” (“Para sua consideração”).

Ainda por causa dessa campanha, Walter Salles e parte da equipe de “Ainda estou aqui” praticamente passaram a morar nos Estados Unidos. Foram a festas, programas de TV, festivais e aonde mais fossem chamados para divulgar seu filme. E foi aí que o fator Fernanda Torres pesou. Depois de ganhar o Globo de Ouro, ela virou uma estrela como Hollywood gosta: inglês perfeito, bem-humorada, boa de piadas, sempre com o sorrisão largo, a atriz foi se tornando uma sensação nas redes sociais gringas e em programas de TV.

A pergunta que todos que não conhecem nossa batucada passaram a repetir é como essa mulher iluminada consegue fazer um papel tão pesado como o de Eunice Paiva em “Ainda estou aqui”. O fato de sua mãe, Fernanda Montenegro, ter sido indicada por “Central do Brasil” há duas décadas e meia foi a cereja do bolo para que mais e mais eleitores do Oscar prestassem atenção na brasileira.

Barreiras

Só que havia outras barreiras para sonhar com voos tão altos. O Oscar é uma concorrência, para ganhar é preciso que os eleitores gostem mais de um filme do que de outro. Neste ano, até bem perto de se encerrar a eleição, tudo indicava que havia espaço apenas para uma obra que não fosse falada em inglês romper a bolha da categoria “filme internacional” e brilhar atrás de outras estatuetas do Oscar. Essa obra era “Emilia Pérez”, um musical ousado de um renomado diretor francês (Jacques Audiard), quase todo falado em espanhol, com debates sobre violência e identitarismo, uma coadjuvante amada pelos jovens (Selena Gomez) e uma atriz trans como protagonista (Karla Sofía Gascón).

Foi na sombra das críticas a “Emilia Pérez” que surgiram vozes bem fortes em prol de “Ainda estou aqui” nas últimas semanas. Ajudou ainda mais ser o filme certo na hora certa. Tanto a obra de Audiard quanto a de Salles têm um caráter político e podem se encaixar bem numa resposta da progressista Hollywood ao segundo mandato de Donald Trump. Quando o presidente americano toma medidas que desfavorecem pessoas trans, “Emilia Pérez” se fortalece. Quando ele adota discursos autoritários e perdoa golpistas que invadiram o Capitólio, os crimes da ditadura denunciados por “Ainda estou aqui” gritam mais alto.

tags: Você Viu?

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Cinema

Brasileiros vão à loucura nas redes sociais, com a tripla indicação de “Ainda Estou Aqui” ao Oscar
Esnobados do Oscar: Angelina Jolie, Nicole Kidman e Selena Gomez ficam de fora da lista
https://www.osul.com.br/carisma-e-momento-politico-entenda-por-que-ainda-estou-aqui-foi-indicado-ao-oscar-de-melhor-filme/ Carisma e momento político: entenda por que “Ainda estou aqui” foi indicado ao Oscar de melhor filme 2025-01-23
Deixe seu comentário
Pode te interessar