Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 15 de janeiro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Nos últimos cinquenta anos, os Estados Unidos têm enfrentado grandes e sucessivos problemas relacionados ao petróleo. Em meados da década de 70, em protesto ao apoio do governo norte-americano a Israel durante a guerra do YomKippur, os países árabes produtores e fortes exportadores de petróleo aumentaram o preço do barril em quase 400%. Em 1979, foi a Revolução Islâmica, guerra Irã/Iraque e demais eventos políticos que duraram toda a década de 70.
Apesar de ser o maior produtor de petróleo do mundo, há uma diferença significativa entre o consumo e a produção, tornando a importação obrigatória. Esses milhões de dólares pagos diariamente a países que, em alguns casos, financiam o terrorismo e encaram os Estados Unidos como inimigo capital provocam a indignação do governo e do povo estadunidense.
O então Presidente Jorge W. Bush (2001 a 2009) declarou que o País era “viciado” em petróleo. Alguns números são impressionantes. O consumo de gasolina em 15 dias nos Estados Unidos equivale ao consumo anual do Brasil. Os norte-americanos consomem mais de 20% da produção mundial de petróleo, produzem diariamente 16 milhões de barris e gastam mais de 20 milhões.
O assunto é tão delicado que devido à invasão russa à Ucrânia (que vai completar dois anos no próximo mês), o governo Biden restabeleceu parcialmente relações com a Venezuela para garantir compra de mais petróleo do ditador Maduro. Os motivos já relacionados são mais que suficientes para investir e incrementar o desenvolvimento e implantação de energias alternativas, como o carro elétrico, que já nasceu três vezes e morreu duas.
Apesar dos esforços e isenções do governo Biden, o consumidor norte-americano não parece disposto a investir mais de US$ 50 mil dólares em um veículo com pequena autonomia, dificuldade para recarregar a bateria e custo enorme em eventual reposição do equipamento.
As grandes montadoras como Ford e GM estão percebendo prejuízos significativos com a produção destes veículos que são subsidiados pelo governo, mas não se sabe até quando estes benefícios continuarão.
Vários políticos e autoridades com conhecimento em energia têm declarado que o país não terá condições de cumprir com as metas estabelecidas para produção de veículos elétricos. Em vários Estados, a data da “morte” dos motores à combustão já está determinada e, isso, sem a infraestrutura norte-americana estar preparada para a mudança. O investimento de US$ 3,5 bilhões de dólares realizado pelo governo não é, nem de perto, suficiente para produzir as baterias em solo nacional, salientando que a maior produtora deste equipamento é a China, inclusive dos minerais essências à fabricação.
O estado da Califórnia proibirá a comercialização de veículos novos, à gasolina, a partir de 2035 e algumas montadoras pretendem se adequar até antes deste prazo. A meta é a produção de 70% de carros elétricos até 2032.
Para chegar a este ponto, três aspectos são essências: a produção em massa de baterias melhores e mais baratas, preferencialmente em fábricas norte-americanas; a melhoria significativa em pontos de recarga e sistema de distribuição de energia e o preço do barril de petróleo aumentar muito acima da média. Os dois primeiros estão muito longe de serem atingidos pois a matriz energética dos Estados Unidos não os favorece. Neste aspecto, o Brasil tem mais recursos naturais. Já o preço do barril de petróleo é totalmente imprevisível, mas, não podemos esquecer que mesmo com o boicote ao petróleo russo, o preço caiu cerca de 10% no último ano.
Qual consumidor estaria propenso a trocar seu veículo à combustão, testado e confiável, com baixo custo de manutenção, facilidade de abastecimento, menor custo de aquisição, com combustível a preço razoável e maior valor de revenda, por outro, com preço de aquisição mais elevado, vida útil muito menor, dificuldade para recarga, pouca autonomia, baixo valor de revenda e com uma única peça eventualmente danificada (bateria) ter valor de reposição semelhante ao do veículo?
Gastar aproximadamente US$ 1,8 mil dólares por ano, algo como US$ 150 dólares por mês (custo médio anual do norte-americano com combustível), justificaria o risco?
Logicamente que a preocupação com o meio ambiente é importantíssima e afeta a todos, todavia, a produção e o descarte das baterias também têm suas consequências maléficas. Até agora, não houve explicação técnica e clara sobre o assunto e não podemos simplesmente repetir discurso pronto para justificar a transição.
Será que teremos o terceiro funeral?
Dennis Munhoz é jornalista e advogado, foi Presidente da TV Record e Superintendente da Rede TV, atualmente atua como correspondente internacional, apresentador e jornalista da Rede Mundial e Rede Pampa nos Estados Unidos
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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