Domingo, 17 de novembro de 2024
Por Dad Squarisi | 13 de dezembro de 2020
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A língua é nosso cartão de visitas. Ela nos apresenta. Diz se temos ou não familiaridade com a leitura e a escrita. Um texto vacinado contra distrações e bobeiras pega bem como pedir favor, pedir licença e pedir desculpas. Tropeços de grafia, concordância, regência e colocação podem ser evitados com a facilidade de quem anda pra frente. Quer ver?
R$ 2 cada? R$ 2 cada um?
Sabia? O pronome cada não suporta a solidão. Deve estar sempre acompanhado de substantivo, de numeral ou do pronome qual. Dizer “Os picolés custam R$ 2 cada” é desamparar o pobre dissílabo. Ele sofre. Em resposta, rouba pontos e prestígio. Melhor dar-lhe a companheira que o consola: Os picolés custam R$ 2 cada um. Os livros valem R$ 50 cada um. Cada qual fez o trabalho a seu modo. Cada servidor colaborou com R$ 20. Distribuímos 30 quilos de alimentos para cada família.
Cada vestido? Todo vestido?
Quem diria! Usados a torto e a direito como sinônimos, os dois pronomes dão recados diferentes. Cada indica diversidade de ação, particulariza: Usa cada dia um vestido (não repete o traje). Cada filho tem um comportamento. Cada macaco no seu galho. Dava brinquedos a cada criança. Todo generaliza. Significa qualquer: Todo dia é dia. Dava brinquedos a toda criança.
Singular? Plural?
A concordância prega cada peça… Uma delas trata da concordância. O verbo fica no singular se os núcleos do sujeito composto forem precedidos de cada. Assim: Na estante, cada livro, cada dicionário, cada enfeite deve ficar no lugar certo. Cada gesto, cada movimento, cada palavra implica alegria e saudade.
Cada? Cada um?
Antes de substantivo singular, o um não tem vez. Por quê? Cada encerra ideia de unidade: Falou com cada deputado (não: cada um deputado). Deu uma bala a cada criança. Distribuiu comida a cada família. O programa ia ao ar a cada hora. A cada real gasto, pedia prestação de contas.
Cada um de nós sairá? Sairemos?
O verbo vai para a 3ª pessoa do singular: Cada um deles tomou um rumo. Cada uma das camisas custou acima de R$ 50. Cada um de nós sairá em horários diferentes.
Café espresso? Café expresso?
Atenção, moçada. O pretinho gostoso não tem nada a ver com a rapidez do expresso. Ele tem a ver com exclusividade. Um café espresso — assim, com s — quer dizer feito na hora exclusivamente pra você. Vamos combinar? É um luxo só.
O caixa? A caixa?
A palavra joga em dois times. É feminina na acepção de recipiente onde se guarda algo e de seção de banco, loja ou repartição pública onde se pagam contas ou se recebe dinheiro (a caixa de joias, a caixa do banco, a caixa do supermercado). A pessoa que trabalha como caixa? Se for mulher, será a caixa. Se homem, o caixa.
Caixa postal 45? Caixa postal, 45?
O número não é antecedido de vírgula. Quando acompanhado de número, letra maiúscula: Não encontrei a caixa postal. Caixa Postal 45.
Eu cabo? Eu caibo?
Caber é cheio de irregularidades. Respeitar as manhas de tão instável criatura exige atenção plena. A mais importante é o cuidado com a conjugação. Guarde as formas: caibo, cabe, cabemos, cabem; coube, coube, coubemos, couberam; cabia, cabia, cabíamos, cabiam; coubesse, coubesse, coubéssemos, coubessem; couber, couber, coubermos, couberem; cabendo; cabido.
Leitor pergunta
Caprino? Cabrino? Nunca sei. – Cíntia Cabral, Brazlândia.
O adjetivo derivado de cabra? É caprino sim, senhor.
Calda? Cauda? Sempre que escrevo, pinta a dúvida. – Berenice Silva, Floripa.
Guarde a imagem: bichos, vestidos, piano têm cauda. Doces, calda.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.