Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de janeiro de 2025
O criminoso geralmente é alguém próximo. Vingança é uma causa frequente. Pesticidas ou chumbinho, costumam ser usados, mas medicamentos podem se tornar uma arma. Entre 23 de dezembro e o réveillon, dois casos de envenenamento separados por quase 4 mil quilômetros chocaram o país por expor uma forma de violência silenciosa e cruel.
No Rio Grande do Sul, um bolo com arsênio matou três integrantes de uma mesma família em Torres, e as investigações da Polícia Civil apontam que a mulher presa pelo crime assassinou da mesma forma o sogro, em setembro. No Piauí, quatro pessoas morreram por comer um baião de dois com inseticida. O homem preso pelo crime odiava a enteada, que já havia perdido dois filhos em outro episódio de envenenamento, que teria sido cometido por uma vizinha, em agosto.
“Quem usa esse método tende a ser uma pessoa covarde, o oposto das violentas. É um método dissimulado, de quem não enfrenta. Normalmente são pessoas próximas das vítimas”, define o psiquiatra forense Guido Palomba
Segundo a médica perita Caroline Daitx, entre os tipos de veneno mais usados, além do chumbinho, há gases tóxicos, cianeto e compostos metálicos como o arsênio, usado em Torres. A alta concentração encontrada no bolo mostrou um planejamento demorado.
“A pessoa teve que pesquisar, levou tempo para conseguir a substância, provavelmente também de maneira ilícita, o que já demonstra preparação”, diz Daitx.
Os dez casos abaixo mostram como uma mão que fingia ser amiga serviram alimentos fatais. Eles integram as 629 notificações de intoxicação exógena ligadas a violência ou homicídio recebidas pelo Ministério da Saúde em 2024.
Arsênio
No dia 23 de dezembro, seis pessoas de uma mesma família comeram um bolo com arsênio em Torres (RS). Morreram Neuza Denize Silva dos Anjos, de 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, de 59 anos, e Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos. Zeli dos Anjos, de 60 anos, que fez o bolo, foi internada. A Polícia Civil prendeu a nora de Zeli, Deise Moura dos Anjos, que também se tornou suspeita de envenenar Paulo Luiz dos Anjos, marido de Zeli, em setembro: uma autópsia achou arsênio no corpo. O motivo dos crimes seria o ódio de Deise a Zeli.
Francisco de Assis Pereira da Costa foi preso pelo envenenamento de nove pessoas em Parnaíba, no litoral do Piauí, no dia 1º. Morreram os dois enteados de Francisco, Manoel Leandro da Silvea, de 18 anos, e Francisca Maria, de 32, e os dois filhos de Francisca: Igno, de 1 ano e 8 meses, e Maria Lauane, de 3 anos. Ele teria misturado arroz com o pesticida terbufós em um baião de dois servido à família. Francisco impressionou os policiais pela frieza e admitiu odiar Francisca, a quem chamava de “inútil”, assim com os filhos da enteada.
Veneno de rato
Três mulheres de uma mesma família foram envenenadas ao consumirem um açaí com veneno de rato em Belém no dia 10 de novembro. A adolescente Verônica Sabrine dos Santos, de 16 anos, morreu. A mãe de Sabrine, Eurineuda dos Dantos Mendes, de 45 anos, e a avó, Maria Neide dos Santos Mendes, foram internadas em estado grave. Eurineida estava se separando do pai de Verônica, que é investigado pelo crime. A adolescente morava com o pai, que havia mandado o açaí para a mãe e a avó a pedido dele. Ele foi ouvido no dia seguinte às mortes.
Filha recém nascida
Charles Luiz Félix da Costa, de 44 anos, foi preso em 25 julho por matar dois dias antes a filha recém-nascida com chumbinho misturado ao leite de uma mamadeira, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, enquanto a mãe tomava banho. A neném de cinco dias de vida chegou a ser socorrida, mas não resistiu.
Morfina
No dia 17 de maio, o empresário Luiz Ormond morreu em seu apartamento, no Rio de Janeiro, depois de ingerir o equivalente a mais de 50 comprimidos de morfina colocados em um brigadeirão. A polícia concluiu que o doce havia sido feito pela psicóloga Júlia Andrade Cathermol Pimenta, namorada de Ormond, a mando da cigana Suyany Breschak.