Domingo, 09 de março de 2025
Por Redação O Sul | 30 de maio de 2024
Quando os extrativistas processam a castanha-do-brasil para extrair óleo vegetal fornecido à indústria de cosméticos, é gerado um subproduto, chamado “torta”, quase sempre jogado fora como resíduo por falta de um uso mais nobre e rentável. Altamente nutritivo, o insumo antes sem valor é hoje estrela de superfoods no crescente mercado da alimentação saudável, com o diferencial da origem amazônica, da valorização dos povos tradicionais e dos benefícios pela manutenção da floresta em pé.
“O mundo precisa aliar ciência moderna e sabedoria ancestral, reaproximando a humanidade da floresta, com nutrição para quem consome, justiça social para quem fornece e minimização de impacto da mudança climática na produção”, afirma Max Petrucci, fundador da foodtech Mahta. A startup, especializada em superalimentos substitutos de refeições completas como suporte à rotina no trabalho, estudos, prática de esportes e agitação da vida urbana, ambiciona faturar R$ 300 milhões ao ano ainda nesta década. “Queremos colocar a Amazônia como protagonista de uma nova categoria de alimentos no Brasil”, diz o CEO.
São itens como o leite de castanha em pó, um shake de 15 ingredientes e uma bebida funcional e energética contendo o café agroflorestal produzido em Apuí (AM) e o guaraná do povo sateré mawé, no Amazonas, guardião dos saberes tradicionais sobre o fruto. No total, a empresa tem mais de mil fornecedores em comunidades da Amazônia – entre os quais, extrativistas do projeto Reca, em Rondônia, que hoje faturam mais com o maior aproveitamento da castanha. O desafio é processar a “torta” localmente, deixando maior valor na Amazônia – e menos em São Paulo, onde hoje a matéria-prima é beneficiada na forma de pó.
A estratégia para viabilizar o negócio tem sido combinar a demanda da empresa com a da indústria de cosmético, que compra o óleo da castanha, gerando o resíduo útil à produção da Mahta. Com o produto plant-based, de baixo carboidrato e alta carga proteica, obtido pelo extrativismo nas áreas nativas ou plantações em sistemas agroflorestais, a empresa integra o mais recente ranking da Endevor entre as startups de destaque no país. “O plano é unir crescimento exponencial e entrega de impacto social positivo”, reforça Petrucci.
Oriundo da indústria digital, o empreendedor atuou na Microsoft como responsável pelos mercados da Ásia, Pacífico, Canadá e América Latina. “Eram voos semanais de 18 horas de duração, em situações de extremo estresse, e a saúde acendeu o alerta”, conta. Para se livrar dos remédios, ele deixou a companhia e embarcou em período sabático para a cura na nutrição alternativa. Um dia veio o insight de investigar o potencial amazônico e contratar pesquisadores da Universidade de São Paulo em Piracicaba (SP) para obter uma lista de superalimentos da região.
Após um ano de qualificação na Amaz, maior aceleradora de negócios de impacto do Norte do país, a Mahta captou R$ 4,5 milhões de investidores anjos para a etapa inicial e, posteriormente, outros R$ 4 milhões para avançar nas pesquisas e estruturação da cadeia de suprimento, com mentoria, treinamento e garantia de compra, além de forte presença nas redes sociais.
Com nove doses diárias das misturas em pó vendidas a R$ 190, a previsão é atingir faturamento de R$ 1 milhão por mês no curto prazo. Neste ano, o crescimento deverá quadruplicar em relação a 2023, quando as vendas já tinham superado o triplo do ano anterior. “O grande objetivo é isolar a proteína da castanha-do-brasil, substituindo fontes veganas hoje obtidas em monoculturas agrícolas”, revela o CEO. Para essas pesquisas, a startup captou R$ 1,4 milhão da Embrapii em parceria com outra startup, a Belterra, no objetivo de capacitar comunidades e valorizar o produto cuja renda depende da floresta bem conservada. As informações são do jornal Valor Econômico.