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“Cavaleiro do Bolsonaro”, que foi à casa de Felipe Neto ameaçá-lo, é condenado pela Justiça

Leandro, ao fundo, junto ao deputado federal Otoni de Paula. (Foto: Reprodução)

A 35ª Vara Criminal do Rio condenou, na última terça-feira, Leandro de Souza Cavalieri Valle, até pouco tempo atrás conhecido como “Cavaleiro do Bolsonaro”, a indenizar o influenciador Felipe Neto em 20 salários mínimos.

O caso remonta a 2020. Cavalieri achou por bem levar um carro de som para a frente do condomínio onde Felipe mora, na Zona Oeste do Rio, para ameaçá-lo e xingá-lo. O bolsonarista ainda gravou tudo e postou nas redes sociais.

A Justiça do Rio entendeu que o “cavaleiro” é culpado pelos crimes de ameaça e contra a honra. Cavalieri foi condenado a mais de um ano de detenção, somadas todas as punições. A pena, porém, foi substituída pelo pagamento dos 20 salários mínimos.

“(…) a conduta do réu não pode ser considerada irrelevante sob a ótica penal, pois o contexto fático do crime revela o desprezo do réu pelas normas usuais inerentes aos embates democráticos. As divergências políticas são naturais e saudáveis; contudo, a conduta do réu não é razoável”, diz a decisão.

Um homem identificado nas redes sociais como Cavalieri, o “guerreiro de Bolsonaro”, foi até a casa do influencer com um carro de som. “Eu te chamei para o debate. Eu tô na porta da tua casa. Cadê você, Felipe Neto?”, gritava. “Que moral Felipe Neto tem? Pra falar o Quê? Tá tudo errado. Viva o Brasil, viva a democracia!”, continuou.

O caso aconteceu na última quarta-feira (29), no Rio De Janeiro. O homem também foi visto em vídeos durante o ataque com fogos de artifício ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília, em junho.

Há duas semanas, Felipe Neto teve um vídeo em inglês publicado no portal do jornal americano “The New York Times”. Nele, o influenciador chama Jair Bolsonaro de “o pior presidente do mundo” no que se refere ao combate à Covid-19.

Liberdade de expressão

Nesta semana, entidades como a Associação Brasileira De Imprensa assinaram uma carta de defesa à liberdade de expressão.

“As pessoas que têm uma reputação pública, que vão construindo algo no decorrer de muitos anos, como no campo do entretenimento e passam a falar de política… Essa Reputação Pode Ser Destruída Em Um Golpe”, diz o professor Pablo Ortellado, da Universidade de São Paulo (USP).

Especialistas ouvidos pela CNN avaliam que ataques deixaram a esfera virtual e ganharam as ruas no início desta década. A evolução da tecnologia e o crescimento das redes sociais criaram as chamadas milícias digitais, grupos responsáveis por ataques organizados contra pessoas consideradas inimigas.

“Estamos vivendo no Brasil um momento de muita turbulência e politização, então tudo que se fala nas redes sociais é levado para um lado ou para o outro, e isso inflama as pessoas e os comportamentos acabam extrapolando”, afirma o professor Marcelo Crespo, advogado especialista em direito digital.

Felipe Neto é apenas um dos casos de personalidades das redes sociais cujos posts tiveram desdobramentos na vida offline.

Ele é um dos maiores influenciadores digitais do país. Só no YouTube, tem quase 40 milhões de inscritos e mais de dez bilhões de visualizações acumuladas.

Há 10 anos, ele fazia críticas ao comportamento da sociedade, com foco no público jovem. Com o tempo, Felipe Neto ganhou espaço explorando outros temas, como videogames e variedades.

Nos últimos anos, passou a fazer comentários políticos. Foi um dos críticos do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e hoje faz o mesmo em relação ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

O jeito ácido e irônico de Felipe despertou atitudes como a dessa semana.

“[Sobre] Esses ataques, tem que procurar a polícia. O Marco Civil da Internet estabelece a guarda de dados de conexão. Você tem que fazer a denúncia, que vai entrar com uma ordem judicial para a quebra da identidade”, diz Pablo Ortellado.

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