Quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 18 de junho de 2016
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Foi um fracasso (mais um) a participação da Seleção Brasileira na Copa América do Centenário. Só ganhamos do Haiti, um arremedo de time, composto em sua maioria por amadores – uma vez, estivemos lá para lembrar ao mundo que esse pobre país existe e que a divulgada solidariedade foi, sobretudo, uma badalação multimídia e não a guerra virtuosa da fraternidade mobilizada.
Enfim, deixemos o Haiti em paz e tratemos de nossos pecados, antes que se transformem em imperdoáveis. Não vou discutir a metodologia da preparação do “combinado” de Dunga e, muito menos, critérios de convocação e escalação. Eu só sei que ele tem a sua dose de culpa, mas, acima dele, há gente conhecida e muito mais poderosa que ainda critica e, de fato, faz caras e bocas de que não tem culpa em cartório. E tem!
O que chama a atenção é que o ninho da seleção é a CBF, indiscutivelmente podre, há muito tempo. Seu ex-presidente Marin está preso. Nas grades simbólicas, há mais de um ano, ele teve a possibilidade de usufruir do Cadeia Tur, posto que já visitou os sistemas penitenciários suíço e norte-americano (seu atual paradeiro), aguardando a sentença que, tudo leva a crer, será condenatória e pesada.
Marin, um expatriado, manipulou o processo eleitoral da CBF e estuprou normas regulamentares (inclusive liberando verbas de origens questionáveis para as federações, que constituem um comitê eleitoral mercantil que, às vezes, lembra a metodologia – mais primitiva e verdadeira – do mensalão). E, assim, com imbatível cara-de-pau, elegendo Del Nero, companheiro de patota. Indiscutivelmente, ficha 1 na sucessão dessa entidade, onde “sacrificados” dirigentes de hoje nela chegam de modesta classe média e, por milagre, tornam-se milionários. Como se dizia na fronteira, “nunca jogando às brinca; só às deva…”.
Exagerou Marin na escolha do sucessor, talvez para mostrar que se engana quem pensa que ele é o pior. Daí surgiu o questionado Del Nero (que nomezinho para a piada pronta) dando um show de fidelidade à terra brasilis. Pode a seleção jogar campeonato ou torneio, amistoso ou oficial; na vizinhança ou longe etc., ele a deixa só e abandonada. Faz lembrar (bah! essa é antiga) aos leitores da melhor idade – outra atochada – um nacionalista radical (tipo “o petróleo é nosso”) de fins de quarenta. Aqueles que aqui estavam e aqui ficaram por ideologia etc. O perigoso Del Nero – precavido como é – sabe que, se botar o seu sapato italiano (de cromo puro), no outro lado de qualquer fronteira, um pezinho só, a Interpol vai levá-lo para um “berçário” supranacional onde, no mínimo, garantirão a ele casa e comida por uns 30 anos. Um pouco monótono, talvez, mas não se pode ter tudo…
Um (ou, pior ainda, vários, como no caso do Brasil) de sucessivos governos da mesma bandeira avermelhada (e depois furta-cor) mostram que cronificou, em nível de poder, a modelagem que junta o oportunismo, o despreparo, a prepotência e a falta de seriedade. Infelizmente, se repetida, como ocorreu, é porque a sociedade crédula e anestesiada pelo marketing da inverdade, não se dá conta da gravidade das enfermidades que viriam a atacá-la, ou percebeu, com o olfato das hienas, preparando-se para o festim de restos putrefatos. Por essas e por outras é que tem reagido espontaneamente o povo. As suas passeatas querem dizer que saímos, como população, do mundo da credulidade e do “me engana que eu gosto”.
Acima dos partidos, a sociedade tem que dizer que sabe o que quer e o que não quer. Não vão enganá-la, oferecendo balinhas açucaradas que logo se desmancham. Se o futebol está corrompido, ela sabe que se deve reduzi-lo de importância até que esteja sanado.
Já se tem visto que existem indícios de negociatas muito próximas ao gramado. E o povo entendeu tudo, ou quase tudo, desse emporcalhamento do seu esporte predileto. Por isso, quando se sai do Campeonato Centenário com o rabo entre as pernas e se dá explicações esfarrapadas com cara de garotinho mijão, é dispensável o “argumento” que nem explica e nem justifica a clássica frase chorosa: “o juiz roubou”. A CBF repete a imagem de governos, cercada, como estava por um descrédito tão forte que se tornou insalubre.
Não foram apenas os jogadores que perderam três sulamericanos seguidos, dois ou três mundiais e todas as Olimpíadas que disputamos. Foi muito a anarquia de procedimentos e a desqualificação da virtude, mais que a zica ou a chicungunha, foram os males sociais e morais que nos atacaram impiedosamente.
Foi por essa consciência dos pecados repetidos e da desonestidade oficial (ante a qual só a gloriosa Operação Lava-Jato ainda nos faz esperançosos) que ninguém se abateu com a derrota expulsória para o Peru, que, como dizia meu avô, era freguês de caderneta.
Enfim, governo, CBF etc., já são produtos de prazos terminais. O País é que precisa reagir, de verdade, porque ele é que não pode ser vencido.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.