Ícone do site Jornal O Sul

Cem anos após a conquista do voto feminino, um número recorde de mulheres se candidata ao Congresso americano

Em 2018, novatas do Partido Democrata já haviam impulsionado uma participação expressiva, mas agora quem puxa o crescimento são as republicanas. (Foto: Reprodução)

Cem anos depois da emenda à Constituição dos Estados Unidos que criou o sufrágio feminino, o número de candidatas mulheres tentando uma vaga no Congresso americano é o maior da História. Há dois anos, quando a estrela progressista Alexandria Ocasio-Cortez foi eleita, o número já havia sido recorde, impulsionado por novatas do Partido Democrata. Agora, quem puxa o crescimento são as republicanas.

O número de candidatas democratas concorrendo a uma vaga para a Câmara é hoje o mesmo de dois anos atrás: 356. O de republicanas é que disparou: de 133 foi para 227, segundo dados da Universidade Rutgers. No Senado, as democratas trazem seis candidatas a mais neste ano, contra uma a mais dos republicanos.

Além de nomes e sobrenomes tradicionais, como Liz Cheney, que hoje ocupa a cadeira que no passado foi de seu pai, o ex-vice-presidente Dick Cheney, os republicanos também tentam emplacar uma nova geração de candidatas trumpistas.

“A vaga à qual estou concorrendo nunca foi ocupada por uma mulher”, conta a republicana Kim Klacik, explicando que algumas opiniões que carrega não são consideradas “muito republicanas”. “Não sou feminista per se, mas definitivamente sou pró-mulher. Sou uma mulher antes de ser uma republicana. Acho que algumas pessoas poderiam dizer que estou mais do lado feminista, mas, de verdade, sou só a favor de mulheres terem mais escolhas.”

Em 2016, Trump conseguiu apenas 4% dos votos das mulheres negras. O grupo é o que mais rejeita o presidente. Klacik mesma já foi democrata: votou em Barack Obama antes de mudar de lado em 2009. A ideia de ter uma candidata com esse perfil concorrendo como republicana mexeu tanto com os dirigentes do partido que ela ganhou espaço de honra no primeiro dia da Convenção Republicana.

Klacik não é a única representante de minoria nas hostes republicanas. Nascida na Índia, Manga Anantatmula, de 58 anos, tenta conquistar uma das vagas da Virgínia.

“Para as mulheres votarem, demorou 72 anos. Elas lutaram, foram presas, protestaram, por quê? Por direitos iguais. E hoje a representação das mulheres no Congresso ainda é muito baixa”, diz Anantatmula, que acredita que a baixa participação dificulta o acesso a direitos, como licença maternidade.

De 1848 a 1920, quando passou a valer a 19ª Emenda à Constituição dos EUA, o movimento sufragista organizou passeatas e fez lobby no Congresso para lutar pelo direito ao voto para as mulheres, em vigor nacionalmente desde 26 de agosto de 1920, há exatos cem anos. O direito estava longe de ser consenso: dezenas de mulheres foram presas e até o The New York Times se posicionou contra. “Os benefícios do sufrágio para as mulheres são quase completamente imaginários”, dizia editorial do jornal de 1913.

Anantatmula emigrou da Índia junto com o filho para se juntar ao marido há 30 anos. Mesmo sendo imigrante, a consultora acredita que não há contradição com a plataforma republicana, já que “não é bem verdade” que os republicanos sejam anti-imigração. Ela diz que as restrições atuais são temporárias, por causa da pandemia — embora as barreiras à imigração do governo Trump tenham começado já em seu primeiro ano de governo, 2017.

Uma das razões que explica o aumento no número de candidatas republicanas é a maior mobilização do próprio partido para recrutá-las, sobretudo depois da onda das mulheres democratas de 2018. Organizações como a “Winning for Women” tentam recuperar espaço perdido pelas mulheres entre os republicanos da Câmara, de 23 cadeiras há dois anos, elas agora têm apenas 13.

São 643 mulheres dos dois partidos concorrendo ao Congresso neste ano. Em 2018, eram 529, e foram elas as responsáveis por aumentar de 20% para 24% a bancada feminina. Foi o maior crescimento no número desde o ciclo de 1992, segundo o Centro de Pesquisas Pew.

Sair da versão mobile