Domingo, 26 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 25 de janeiro de 2025
Embora distantes, as eleições de 2026 entraram de vez no radar e nas conversas de participantes do mercado. Nos últimos dias, agentes vêm se mostrando mais receosos com a possibilidade de novas tentativas de expansão fiscal pelo governo em um cenário de queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O resultado, a exemplo do que se viu no ano passado, seria o de aumento dos prêmios de risco. Ao mesmo tempo, com os preços dos ativos financeiros ainda em níveis depreciados, investidores, especialmente aqueles com horizonte de maior prazo, buscam avaliar qual seria o impacto nos mercados em um cenário potencial de alternância de poder em 2026.
A antecipação da cena eleitoral por parte dos investidores ganhou intensidade nos últimos dias, a partir de declarações de Lula. Em reunião ministerial na segunda-feira, o presidente afirmou que 2026 “já começou” e admitiu que poderia não concorrer à reeleição no ano que vem. Ainda que a notícia não tenha tido impacto direto nos preços dos ativos no dia em que foi veiculada, houve quem apontasse no mercado que a recente melhora poderia estar relacionada a uma antecipação de um ambiente de disputa eleitoral em 2026.
“Em um mercado onde o pessimismo com o Brasil parece estar em seu pico, esse tipo de argumento [da alternância de poder] pode ajudar a dar sustentação aos ativos locais, mesmo que em ciclos mais curtos e com a manutenção de uma volatilidade elevada. Reforço que pode ser cedo para uma mudança definitiva da tendência positiva dos ativos locais, mas cria um ‘risco positivo’ em um mercado que vinha operando unidirecionalmente na direção negativa”, afirma Dan Kawa, sócio da We Capital, em publicação nas redes sociais.
Até lá, o curto prazo e as políticas que o governo pode adotar seguem no radar dos agentes financeiros, o que provoca um aumento na volatilidade dos mercados, sobretudo no de juros, que costuma ser mais sensível às discussões fiscais e à trajetória da dívida pública. Há um temor de que, com uma possível queda da popularidade do presidente diante da crise com as “fake news” sobre o Pix e a inflação em alta, o governo possa adotar medidas que seriam vistas pelo mercado como fiscalmente irresponsáveis, ou que utilize a política parafiscal, o que aumentaria o custo da conta a ser paga pela taxa de juros.
“Há uma grande incerteza. A visibilidade é muito baixa, mas, a julgar pela derrota flagrante do ministro [da Fazenda Fernando] Haddad na apresentação do pacote fiscal, que já era muito tímido e que ainda trouxe o ‘jabuti da isenção do Imposto de Renda, o receio é de que a estratégia do governo seja a de dobrar a aposta no modelo fiscal expansionista”, diz o economista-chefe da Reag Investimentos, Marcelo Fonseca.
Para ele, é “muito difícil conceber uma arrumação no edifício fiscal na antessala das eleições” e, por isso, os prêmios de risco dos ativos financeiros domésticos devem seguir elevados. O resultado, na visão do economista, é que esse cenário continue a alimentar as pressões inflacionárias. Semana após semana, o Boletim Focus vem mostrando um processo adicional de desancoragem das expectativas de inflação, ao mesmo tempo em que, nos preços de mercado, a inflação “implícita” nos títulos públicos está acima de 6,5% em todos os vencimentos de prazo mais curto.
Desafios
O tema eleitoral, inclusive, foi objeto de estudo recente de duas gestoras respeitadas do mercado doméstico. Em carta mensal, a Mar Asset Management apontou que os desafios econômicos atuais são de ordem política e que a solução para eles deve se dar com uma mudança de gestão no poder Executivo. “Haverá um gatilho para estancar a piora macroeconômica e dos ativos financeiros brasileiros no futuro próximo? A nossa resposta é que sim”, aponta a equipe da gestora.
A ideia da alternância de poder é justificada pela gestora com os argumentos de que o ciclo econômico está esgotado e há uma perspectiva de deterioração nos próximos anos. Além disso, a Mar Asset identifica uma alteração estrutural na sociedade brasileira, marcada pelo crescimento da população evangélica, que tem influenciado uma mudança no perfil do voto médio em direção ao conservadorismo e movimentado o pêndulo político brasileiro à direita.
“Embora estejamos ainda distantes da próxima eleição, é inevitável, para um analista de padrões, reconhecer o potencial de quebras de correlações e o surgimento de novas forças capazes de gerar um rali de magnitude pouco comum, considerando os preços atuais dos ativos brasileiros. Uma deterioração acelerada da popularidade no curto prazo seria o catalisador para o mercado começar a antecipar o fim da dominância política atual”, dizem os gestores da Mar Asset.