O racismo é de tal forma elemento estrutural das sociedades ocidentais que se faz visível em qualquer assunto – até mesmo em temas como urbanização e o desenvolvimento de grandes cidades como Nova York.
Por trás de um dos mais célebres cartões-postais de Manhattan está um perfeito exemplo da perseguição racial e da violência contra a população negra que caracteriza todas as relações sociais em um país como os EUA: pois antes do Central Park ser construído existia a Seneca Village, um bairro essencialmente negro que existia no coração da ilha.
A comunidade formada predominantemente por populações negras começou a ser levantada em 1825 por negros e negras libertas, na região compreendida entre as ruas 82 e 89 do lado oeste de Manhattan, hoje uma pequena parte do parque central da cidade – consta que a comunidade também era formada por algumas famílias de imigrantes irlandesas e alemãs.
Até 1832 os 200 lotes originais, postos à venda pelos então proprietários John e Elizabeth Whitehead seriam vendidos por preços acessíveis para a população afro-americana, e assim nascia um refúgio contra o racismo dominante, longe da parte então mais populosa e abastada, na parte sul da cidade: vale lembrar que a escravidão foi abolida em Nova York em 1827.
Em 1855 o bairro de Seneca Village era formado por cerca de 225 moradores, metade deles proprietários das próprias casas, o que permitia inclusive que participassem das eleições. Pouco antes, porém, em 1853 foi aprovada a construção do primeiro grande parque público do país, sobre cerca de 3,4 quilômetros quadrados da rua 59 até a 106 – em perímetro que incluía, portanto, a comunidade.
A tomada do espaço se deu através de apropriação, com o estado removendo e reposicionando a população e oferendo uma pequena compensação financeira aos proprietários: em 1857 as casas já estavam vazias e sendo postas ao chão, e no ano seguinte o Central Park foi inaugurado.