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Qual o tamanho do ‘reino’ de Charles III? Veja a evolução do Império Britânico

Quando o rei Charles III for formalmente coroado no próximo sábado, os territórios ultramarinos do Reino Unido serão apenas 14. (Foto: Divulgação)

No início do século XX, não havia noite no Império Britânico, com um território que chegou a englobar quase um quarto das terras e 23% da população do planeta. Quando o rei Charles III for formalmente coroado no sábado (6), os territórios ultramarinos do Reino Unido serão apenas 14: o maior deles, as Ilhas Falkland (ou Malvinas, para os argentinos) com uma área aproximada de 12,2 mil km². Sergipe, o menor estado brasileiro, tem cerca de 21,9 mil km².

São transformações territoriais ajudam a contar a História recente da Humanidade, das grandes navegações às duas guerras mundiais, passando pela Revolução Industrial. É também indissociável do movimento de descolonização que ganhou fôlego no século passado. Não à toa, quando em 1997 foi representar sua mãe na cerimônia de devolução de Hong Kong à China, o então príncipe Charles escreveu em seu diário que vivia o “fim do Império Britânico'”.

Tratado de Versalhes

A assinatura do Tratado de Versalhes, que marcou o fim da Primeira Guerra Mundial em 1919, pôs sob comando britânico algumas colônias alemãs na África e na Oceania. Apenas três anos depois, contudo, duas peças significativas do território, a República da Irlanda e o Egito, ganharam sua independência — os primeiros sinais de decadência, portanto, vieram antes mesmo de a mãe de Charles, a rainha Elizabeth II, nascer em 1926.

Nos 26 anos até que a monarca ascendesse ao trono, as mudanças foram velozes, fenômeno indissociável da Segunda Guerra Mundial. Os impactos de um conflito catastrófico não pouparam a economia britânica, e o altíssimo endividamento custou caro. Havia também uma nova ordem mundial, o raiar da Guerra Fria, e um Reino Unido cujo posto de potência ocidental foi perdido para um país que nasceu em 1776 a partir de 13 colônias no Novo Mundo.

Pós-guerra

Na mesma época, não à toa, fortaleciam-se os clamores pró-independência nas colônias, exploradas por séculos para bancar o desenvolvimento e enriquecimento da metrópole e ceder seus homens para guerras que a Londres interessavam. Um grandíssimo golpe para os britânicos veio em 1947 com a secessão de sua joia da coroa, o subcontinente indiano, impulsionada pelo movimento não violento de Mahatma Gandhi.

Da divisão vieram dois países, separados de acordo com linhas religiosas: a maioria hindu, nas partes central e sul, ficaria na Índia, enquanto duas partes no nordeste e noroeste seriam o Paquistão. À divisão seguiram-se conflitos que mataram milhares e o deslocamento interno de algo entre 14 e 18 milhões de pessoas. A relação entre os vizinhos é até hoje tensa.

Colônia supera metrópole

No ano passado, a Índia ultrapassou o Reino Unido, tornando-se a quinta maior economia do mundo. Em algum momento deste ano, se tornará também o país mais populoso do planeta — posto que pela primeira vez será ocupado por uma democracia, mesmo que imperfeita.

Quando houve a partição da Índia britânica, já estava claro que o Reino Unido não conseguiria sustentar sua vastidão extramarina por muito mais tempo.

Pela Ásia

No ano seguinte à criação de Índia e Paquistão, a retirada britânica da Palestina deu pontapé em um conflito que até hoje segue sem solução. Quase simultaneamente, as forças militares do Império Britânico responderam militarmente aos anseios separatistas do Exército de Liberação Nacional Malásia. A independência, em outro processo navegado com Londres, viria em 1957.

O país do Sudeste Asiático foi um dos mais de 30 que declararam sua independência durante as sete décadas em que Elizabeth II esteve à frente do governo britânico, entre 1952 e sua morte em 2022.

África e as Malvinas

A primeira colônia africana a se tornar independente do Reino Unido foi Gana, em 1957. Na década seguinte, mais 20 territórios britânicos se tornaram autônomos. Em 1960, foi a Nigéria e, no ano subsequente, Serra Leoa e Tanzânia se separaram. Uganda se tornou independente em 1962, um ano antes do Quênia. Em 1964, foi a vez de Gâmbia, entre outros.

Um dos pontos fora da curva na descolonização foi a Guerra das Malvinas, em 1982, quando o general Leopoldo Galtieri, chefe da junta militar argentina, quis retomar as ilhas das mãos inglesas. Sob ordens da primeira-ministra Margareth Thatcher, as forças britânicas revidaram de forma arrasadora: em 74 dias, morreram cerca de mil soldados, mais de 600 argentinos.

Extremo oriente

Um dos últimos pedaços a se desvincular foi Hong Kong, em 1997, ponto final no colapso do império. A rainha tentou manter algum resquício de seu império vivo com a Comunidade Britânica (Commonwealth, em inglês), grupo de 56 países criado para manter uma associação entre a metrópole e suas ex-colônias cuja força está em seus “valores compartilhados e diversidade”.

A simbologia do grupo sempre foi maior do que a força política. Charles ainda é rei de 14 delas, onde a figura da monarquia é principalmente cerimonial, mas pode não durar muito frente aos anseios republicanas. Uma baixa veio em 2020, quando Barbados oficialmente se tornou uma República.

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