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Por Redação O Sul | 25 de setembro de 2022
O rei Charles III construiu seu próprio império muito antes de herdar o de sua mãe. Charles, que ascendeu formalmente ao trono britânico, passou meio século transformando sua propriedade real em uma carteira de bilhões de dólares e um dos mais lucrativos negócios da família real.
Enquanto sua mãe, a rainha Elizabeth II, delegava a terceiros a responsabilidade por seu portfólio, Charles estava muito mais envolvido no desenvolvimento da propriedade privada conhecida como Ducado da Cornualha. Na última década, ele montou uma grande equipe de gerentes que aumentaram o valor e os lucros de seu portfólio em cerca de 50%.
Agora, o Ducado da Cornualha possui o campo de críquete conhecido como The Oval, terras agrícolas exuberantes no sul da Inglaterra, aluguéis de temporada à beira-mar, escritórios em Londres e um depósito de supermercado. A carteira de imóveis de 130 mil acres é quase do tamanho de Chicago e gera milhões de dólares por ano em renda de aluguel.
Fortuna
As participações do conglomerado estão avaliadas em cerca de US$ 1,4 bilhão, em comparação com US$ 949 milhões no portfólio privado da rainha morta. Essas duas propriedades representam uma pequena fração da fortuna estimada em US$ 28 bilhões da família real. Além disso, a família tem uma riqueza que permanece um segredo bem guardado.
Como rei, Charles assumirá o portfólio de sua mãe e herdará uma parte dessa fortuna incalculável. Enquanto os cidadãos britânicos normalmente pagam cerca de 40% de imposto sobre herança, o rei está isento. E ele passará o controle de seu ducado para seu filho mais velho, William, para aumentar o espólio sem ter de pagar impostos corporativos.
O crescimento dos valores nos cofres da família real e da riqueza pessoal do rei Charles na última década ocorreram em um momento em que o Reino Unido enfrentava cortes orçamentários por causa da austeridade fiscal. Os níveis de pobreza dispararam e o uso de bancos de alimentos quase dobrou.
O estilo de vida da família real, de palácios e jogos de polo, há muito alimenta acusações de que a realeza está fora de contato com as pessoas comuns. Charles, às vezes, tem sido o símbolo inconsciente dessa desconexão – como quando sua limusine foi assediada por estudantes que protestavam contra o aumento das mensalidades, em 2010, ou quando ele se empoleirou no topo de um trono dourado este ano para prometer ajuda para famílias em dificuldades.
Dificuldades
Charles ascende ao trono enquanto o país sofre uma crise de custo de vida que deve piorar mais a pobreza. Uma figura que causa mais divisão do que sua mãe, o rei provavelmente dará uma nova energia àqueles que questionam a relevância de uma família real em um momento de dificuldades.
Laura Clancy, autora de Running the Family Firm disse que o rei Charles transformou as contas reais antes adormecidas. “O ducado vem comercializando constantemente nas últimas décadas”, disse Clancy. “É administrado como um negócio com um CEO e mais de 150 funcionários.” O que costumava ser considerado uma “pilha de terra da pequena nobreza” agora funciona como uma corporação”, disse.
O Ducado da Cornualha foi estabelecido no século 14 para sustentar gerar o herdeiro do trono e financiou as despesas de Charles. Um exemplo: o lucro de US$ 28 milhões que ele obteve, em 2021, superou seu salário oficial como príncipe, pouco mais de US$ 1,1 milhão.
Contar os bens da família real é complicado, mas a fortuna se divide em quatro grupos. O primeiro e mais importante é o Crown Estate, que supervisiona os bens da monarquia por meio de um conselho. Charles, como rei, será o presidente, mas ele não tem a palavra final.
A propriedade, cujo valor é de mais de US$ 19 bilhões, inclui shopping centers, ruas movimentadas no West End de Londres e um número crescente de parques eólicos. A realeza tem o direito de receber apenas a renda de suas propriedades e não pode lucrar com nenhuma venda, pois não possui pessoalmente os ativos.
Os lucros da propriedade, avaliados em US$ 363 milhões este ano, são entregues ao Tesouro, que em troca dá à família real um pagamento chamado “subsídio soberano” com base nesses lucros – que deve ser complementado pelo governo se for inferior ao do ano passado. Em 2017, o governo aumentou o pagamento da família para 25% dos lucros para cobrir os custos da reforma do Palácio de Buckingham.
A última doação soberana recebida pela realeza foi de US$ 100 milhões, que a família, incluindo Charles, usou para deveres da realeza, como visitas, folha de pagamento e tarefas domésticas. Ela não cobre o custo de segurança, que também é pago pelo governo, mas é mantido em segredo.
O próximo grande pote de dinheiro é o Ducado de Lancaster. Esse portfólio de US$ 949 milhões pertence a quem estiver no trono. Mas o valor é ofuscado pelo Ducado da Cornualha. Gerando dezenas de milhões de dólares por ano, o ducado financiou seus gastos e de William, o herdeiro do trono, e de Kate, mulher de William.