Chico Buarque, enfim, falou! O cantor e compositor carioca se manteve em silêncio nos últimos anos sobre os ataques que recebe nas ruas e na internet por conta de suas posições políticas. Mas o silêncio foi quebrado na noite de quarta-feira (13), no palco, na estreia nacional do show Caravanas, no Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG).
A fala foi feita no embalo do forte coro de “Fora, Temer!”, puxado pela plateia após Chico cantar a música “Grande hotel” em homenagem ao baterista Wilson das Neves, músico que morreu neste ano e a quem o show é dedicado.
“Tem que gritar mesmo! E para ouvir. No começo, não ouvi direito porque estou usando fones de ouvido. Aliás, acho que vou passar a usar esses fones permanentemente lá no Rio, onde eu gosto de caminhar. Moro num bairro carioca onde mora muita gente fina. Quando caminho, eu ouço frases como ‘Viado! Vá para Cuba. Viado! Vai passear em Paris’. O único consenso é o viado”, afirmou Chico, irônico, sendo aplaudido pela plateia.
Na sequência, Chico cantou a música “Gota d’água”, dos versos “E qualquer desatenção, faça não! Pode ser a gota d’água”. A música já estava prevista no roteiro, mas soou como um recado político do cantor aos desafetos.
Durante 1h30min, o artista – que canta tudo de cor – percorreu parte de sua trajetória artística desde os anos 1960 até o último trabalho lançado em agosto. Citou os parceiros de uma vida toda como Cristóvão Bastos, Tom Jobim e até os mais recentes. “Esta música (referindo-se a Massarandupió) é do meu parceiro mais amado, Chico Brown, meu neto Chiquinho, que, inclusive, está aqui na plateia ao lado da irmã, Clara Buarque, que canta comigo Dueto no meu disco”, destacou.
Frente Nacional Contra a Censura
Logo na entrada do Palácio das Artes há uma faixa da FNCC (Frente Nacional Contra a Censura), ação criada há menos de um mês que se propõe a “combater a onda conservadora que atingiu o País e que visa controlar e cercear as liberdades e a criação”. Um dos principais incentivadores do movimento é Chico Buarque, que fez questão de postar um vídeo de apoio à Frente.
Curiosamente, exatos 49 anos após a promulgação do AI-5 – o mais severo de todos os Atos Institucionais e que provocou uma série de cassações, prisões, torturas e perdas de direitos, –, o cantor e compositor carioca, que chegou a sofrer censura e outras ações arbitrárias no passado, subiu na quarta-feira, 13 de dezembro, ao palco da principal casa de espetáculos de Minas.
Fazendeiro
Em fevereiro, após ofender o cantor Chico Buarque, o fazendeiro Guilherme Gaion Junqueira Motta Luiz aceitou o acordo proposto pelo Ministério Público, e pagou uma multa de R$ 2 mil para evitar a instauração da ação penal. Ele era alvo de queixa-crime por postar no Facebook frases ofensivas contra o compositor.
Gaion ainda era réu em uma outra ação, na qual o artista cobrava indenização por danos morais. Em uma postagem feita no Facebook, em dezembro de 2015, o fazendeiro acusou Chico Buarque de se beneficiar financeiramente de sua posição política a favor do governo Dilma e do PT. Além disso, Gaion disse que esses “benefícios” teriam sido recebidos por meio da Lei Rouanet.