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Chile engrossa o coro do Uruguai contra as declarações de Lula sobre a Venezuela

O presidente Lula em encontro com o mandatário chileno Gabriel Boric, no Palácio Itamaraty. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

O presidente do Chile, Gabriel Boric, engrossou na terça-feira (30) o coro contra as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito da democracia na Venezuela. Após encontro com presidentes sul-americanos, em Brasília (DF), o chileno disse a jornalistas ver “uma discrepância” entre as falas do brasileiro e “a realidade”.

“Não se pode varrer para debaixo do tapete ou fazer vista grossa sobre princípios importantes. Respeitosamente, discordo do que Lula disse ontem. Não é uma narrativa, é uma realidade, é séria e tive a oportunidade de ver-la nos olhos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que vivem na nossa pátria e que exigem uma posição firme e clara”, afirmou Boric, cobrando respeito aos direitos humanos, independentemente da linha política do governante de turno.

“É a primeira oportunidade que temos para dividir espaço com (Nicolás) Maduro. E é nesse espaço que resolvemos os problemas. Isso não significa fazer vista grossa para os problemas”, afirmou Boric. “Há uma discrepância entre a realidade e as declarações do presidente Lula. Não é uma construção narrativa, é uma realidade séria”, completou o chileno.

Na segunda-feira (29), em entrevista ao lado de Maduro, Lula disse que uma narrativa foi construída contra o regime venezuelano, sugerindo que haveria uma visão deturpada da comunidade internacional sobre a situação no país bolivariano.

“É efetivamente inexplicável um país ter 900 sanções porque o outro país não gosta dele”, afirmou Lula. “É culpa dos Estados Unidos, que fizeram um bloqueio extremamente exagerado. Eu sempre acho que bloqueio é pior do que a guerra, porque a guerra mata soltados em batalha. O bloqueio mata crianças, mulheres, pessoas que não têm nada a ver com a disputa ideológica em jogo.”

O presidente brasileiro afirmou, ainda, que a Venezuela precisa divulgar sua “narrativa” sobre a situação política e econômica do país para fazer frente ao que chamou de “narrativas” construídas por opositores no cenário internacional.

“Acho que cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa, para que possa fazer as pessoas mudarem de opinião. É preciso que você construa a sua narrativa e acho que por tudo que conversamos, a sua narrativa vai ser melhor do que a que têm usado contra você”, disse Lula, no microfone, em fala endereçada diretamente a Maduro. “Nossos adversários vão ter que pedir desculpa pelo estrago que fizeram na Venezuela.”

A declaração já havia sido alvo de uma reparação na reunião de terça-feira, pelo presidente do Uruguai, Luís Lacalle Pou. Durante sua fala na reunião com os demais presidentes, ele se disse surpreso com a fala de Lula sobre a narrativa.

Lacalle Pou, por sua vez, se disse surpreso com as declarações de Lula. “Fiquei surpreso quando se disse que o que acontece na Venezuela é uma narrativa. Vocês sabem o que nós pensamos da Venezuela e do governo da Venezuela”, reagiu o uruguaio. “Se há tantos grupos no mundo tentando mediar a volta da democracia plena na Venezuela, para que haja respeito aos direitos humanos, para que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tapar o sol com um dedo. Vamos dar o nome que tem e vamos ajudar.”

Lacalle Pou fez ressalvas ao texto da declaração final, especificamente um trecho que tratava da visão do grupo sobre a democracia. O artigo está sendo ajustado e, segundo um representante do governo chileno, a declaração deve ser assinada por todos os presidentes.

Depois da reunião, Maduro minimizou as críticas. “Isso é normal. Eles têm uma visão, nós temos outra. Há união na diversidade. Isso é a América do Sul, e sempre haverá debate”, disse o chefe do regime chavista. “O espírito unitário sul-americano reinou hoje. Sempre haverá diferenças de critério, propostas e ideias. Mais importante é que houve debate com muita tolerância e franqueza.”

Após as críticas, o presidente Lula voltou a defender o regime de Nicolás Maduro na Venezuela, em entrevista coletiva depois da reunião com países sul-americanos em Brasília na terça-feira. A jornalistas, Lula disse não ser possível que não exista o mínimo de democracia na Venezuela.

Questionado se não há nada de errado na Venezuela, onde a crise econômica levou 7 milhões de pessoas a fugirem para outros países da América do Sul, a hiperinflação dizimou a economia do país e Acnur e mais de 7 mil pessoas foram vítimas de execuções extrajudiciais, Lula disse que não poderia dizer se havia problemas, porque a última vez em que visitou o país foi no velório de Hugo Chávez, morto em 2013.

“Não é possível que não tenha o mínimo de democracia na Venezuela”, disse Lula. “O chavismo disputou 29 eleições e perdeu duas.” As informações são dos jornais Valor Econômico e O Estado de S. Paulo.

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