Domingo, 20 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 19 de abril de 2025
Quem vê hoje o festival de guloseimas de chocolate da Páscoa, em formatos variados como ovo, barra ou coelho, talvez nem se dê conta do quanto essa tradição demorou a se consolidar. Historiadores contam que o cacau nem sempre foi o carro-chefe do feriado cristão. Na Europa da Idade Média, era costume decorar ovos de galinha e pintá-los à mão para que fossem comidos após a missa do domingo, já que o alimento representa o renascimento — simbologia ligada à ressurreição de Jesus.
Os primeiros coelhos de chocolate só surgiram de fato na Alemanha no século XIX. E o panteão de símbolos tradicionais do feriado religioso foi ampliado na Inglaterra, que iniciou a produção do que conhecemos atualmente como os ovos de chocolate a partir de 1873.
Hoje, diferentes tipos de ovos de chocolate estão disponíveis no mercado, incluindo aqueles com recheios de brigadeiro, doce de leite, pistache e maracujá. Além disso, no Brasil, se popularizaram os ovos feitos por encomenda, que podem ter até três sabores em seu interior.
Com toda essa multiplicidade de opções, como saber qual é a mais saudável? E quais são as armadilhas da dieta disfarçadas de diversão?
Um dos produtos mais vendidos no país no período é o ovo de chocolate ao leite, considerado o mais tradicional. Ele tem cerca de 550 calorias a cada 100g. Considerando que um ovo médio traz cerca de 300g de chocolate, um desses pode chegar a 1.650 calorias.
O médico Renato Lobo, pós-graduado em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e o nutricionista Alexandre Danton, mestre em Nutrição e Saúde pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), falam sobre essas diferenças e esclarecem o que é mito e o que é verdade em relação ao alimento mais famoso da Páscoa.
– É possível incluir o ovo de chocolate em uma alimentação balanceada? Verdade. Se a pessoa tem desejo de comer chocolate, ele pode ser encaixado na alimentação. O mais importante é o horário em que ele é consumido. Por exemplo, se de manhã você está em jejum e quebra esse intervalo comendo um chocolate, você tem um pico glicêmico. Como consequência, vai sentir mais fome que o normal depois, porque o corpo precisa de energia novamente após a elevação dos níveis de açúcar no sangue, explica Lobo.
O chocolate como sobremesa pode ser consumido após uma refeição balanceada (com boa fonte de proteína e salada). Dessa forma vai ser absorvido mais lentamente.
– Chocolate diet ajuda a emagrecer? Mito. O diet não tem adição de açúcar, mas o nutrólogo ressalta que essa opção, por outro lado, tem muitos adoçantes e outros compostos para realçar o sabor do alimento. Além da gordura que é própria do chocolate. Danton aponta que não é uma troca inteligente optar pela versão diet na dieta, pois essas alternativas mantêm as calorias.
– O chocolate amargo é melhor para a saúde? Verdade. O chocolate amargo tem maior concentração de cacau e menor percentual de açúcar, o que, segundo os especialistas, representa uma opção mais saudável dentre os tipos de chocolate.
De acordo com um estudo conduzido pela Harvard TH Chan School of Public Health, consumir esse alimento de forma regular pode reduzir o risco de diabetes tipo 2 em até 21%.
A pesquisa, que acompanhou os hábitos alimentares de mais 192 mil pessoas por 30 anos, descobriu que a cada porção semanal de chocolate amargo consumida, o risco de desenvolver a doença cai 3%. Isso é possível pela presença de antioxidantes, incluindo os polifenóis chamados de flavonoides.
– Chocolate branco é chocolate de verdade? Mito. O chocolate branco tem uma concentração muito baixa de cacau. Na sua composição são encontrados em grandes quantidades o açúcar, o leite e a gordura. Por isso, para Lobo, não se trata de um chocolate de verdade.
– Comer chocolate todos os dias causa diabetes? Mito. O consumo diário de chocolate não é um causador isolado da diabetes. Danton esclarece que o aparecimento da doença é uma questão ligada ao estilo de vida. Ou seja, a alimentação de forma geral e a prática (ou não) de atividades físicas influem. Porém, quando somamos dieta inadequada e sedentarismo por longo do tempo, segundo ele, o indivíduo pode desenvolver obesidade, e consequentemente, diabetes.
– Comer chocolate causa acne? Mito. De acordo com o nutricionista, os estudos científicos ainda não chegaram a uma conexão clara entre o chocolate e o aparecimento ou agravamento da acne no rosto.
– Comer chocolate pode causar dores de cabeça? Verdade. Lobo aponta que, para algumas pessoas, a teofilina (composto do cacau que parece com a cafeína) pode ser um gatilho para dor de cabeça.
– Chocolate pode viciar? Mito. Comer chocolate não é considerado um vício pela comunidade científica, assegura Danton. Mas, como é uma atividade prazerosa, o ato de apreciar um ovo de Páscoa acende uma área do cérebro chamada de “sistema de recompensa”, responsável pela repetição de comportamentos em prol da busca por satisfação. Em outras palavras, se o chocolate é gostoso, a tendência é que as pessoas queiram repetir.
Dessa forma, em vez de procurar pelas opções de recheios mais açucarados, para manter a saúde em dia mesmo na Páscoa é importante olhar os rótulos dos ovos e coelhinhos na hora da compra. Em especial, a parte que menciona o “açúcar adicionado” — que nada mais é do que o açúcar branco, de cozinha — para fugir dos que possuem teores muito elevados. O ideal é optar por um ovo de chocolate amargo, sem recheio. As informações são do jornal O Globo.