A chuva deu uma trégua à Bahia nas últimas semanas, mas parte dos moradores de cidades localizadas às margens de alguns dos principais cursos d´água que cortam o estado continua sendo afetada pela contínua elevação do nível do Rio São Francisco – consequência do volume de água que segue atingindo a nascente do rio, em Minas Gerais.
O Sistema de Alerta de Eventos Críticos (SACE), do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), aponta que, esta manhã, o nível do “Velho Chico” já ultrapassava as respectivas cotas de inundação de ao menos quatro locais em Minas Gerais. E o Boletim de Alerta Hidrológico indica que, devido às chuvas em Minas Gerais, o nível d´água da maioria dos rios da Bacia do São Francisco deve subir ainda mais nos próximos dias.
A situação da bacia hidrográfica forçou a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) a anunciar, na semana passada, a ampliação gradual da vazão d´água dos reservatórios das usinas hidrelétricas ao longo do “Velho Chico”. Como, na região, as chuvas costumam se estender até abril, técnicos da Chesf acreditam que o maior reservatório, o de Sobradinho, pode chegar próximo ao seu limite de armazenamento nos próximos meses.
“A previsão é que Sobradinho, nosso maior reservatório, alcance cerca de 75% de armazenamento já no fim de janeiro”, informou o diretor de Operação da Chesf, João Henrique Franklin, em uma nota na qual a empresa destaca a necessidade da operação para controlar o volume d´água dos reservatórios. “Ainda há um grande volume de chuvas acontecendo em Minas Gerais e vamos ter [um volume de] vazões que há 12 anos não vemos no Rio São Francisco. Por isso, é necessária a liberação da calha do rio”, acrescentou Franklin.
A Chesf garante já ter repassado às autoridades municipais, principalmente aos órgãos de defesa civil, informações sobre áreas da Bahia e de outros três estados (Alagoas, Pernambuco e Sergipe) que podem ser atingidas pelas águas devido ao aumento da vazão do São Francisco. Com a liberação gradual, a vazão nas regiões do Submédio e Baixo São Francisco deve atingir 4 mil metros cúbicos por segundo ( m³/s),no próximo dia 24.
Um dos lugares sujeitos à inundação é o bairro do Angari, em Juazeiro (BA). De onde, na manhã desta segunda, a prefeitura tentou remover ao menos 25 famílias – das quais apenas duas aceitaram deixar a área neste primeiro momento. O bairro fica às margens do Rio São Francisco, muito próximo à Barragem de Sobradinho, em uma área que deve ser ao menos em parte alagada quando a vazão do rio atingir 3 mil m³/s, conforme contou a secretária municipal de Comunicação, Fernanda Coelho de Barros.
“Ainda não há registros de novos alagamentos na cidade, mas como a liberação d´água [dos reservatórios] é programada, diante das estimativas, decidimos já começar a remover as famílias do Angari, por precaução”, disse a secretária, explicando que, em dezembro, a prefeitura decretou situação de emergência municipal em função das chuvas que atingiram a região. “Todo o suporte público municipal está organizado e à disposição das famílias que necessitarem”, garantiu a secretária.
Além de Juazeiro, outros 190 municípios baianos decretaram situação de emergência em razão das chuvas que atingiram a Bahia em dezembro. Balanço divulgado no domingo (16), pela Defesa Civil estadual, contabiliza 965.643 pessoas de alguma forma atingidas pelas consequências das precipitações pluviométricas. Destas, 62.156 tiveram que deixar suas casas e se abrigar na casa de parentes, amigos ou vizinhos, enquanto outras 30.306 tiveram que, em algum momento, ser acolhidas em abrigos improvisados. Até ontem, o estado contabilizava 27 mortes e 57 pessoas feridas.