O Rio de Janeiro, onde morei por 22 anos, tem uma característica atípica. É uma cidade que reúne serra, floresta, praia e grande centro urbano. Até aí, podemos classificá-la como uma maravilha da natureza, o que realmente a é. Mas, exige cuidado, coisa que, infelizmente, o carioca não tem. O Rio cresceu de uma maneira desorganizada, morro acima. Acredite: as melhores paisagens da cidade estão reservadas aos moradores das favelas, que construíram nas encostas desordenadamente, sem nenhuma orientação técnica ou algum projeto urbanístico, sequer com infraestrutura de água e luz.O poder público não tem como controlar isso, pois não consegue subir os morros. Nem a polícia sobe, Só consegue em batalhão, com o famoso “caveirão”.
Então, quando uma chuva intensa como essa atinge o Rio de Janeiro, a tragédia é previsível. Em todos os anos, as águas de março (neste ano, em abril) provocam os mesmos prejuízos. Isso sempre vai acontecer. O problema do Rio de Janeiro é insolúvel. Um princípio básico da geologia diz que o que sustenta os morros é a vegetação e a formação calcária. Quando você remove uma das duas, você tira todo o sustentáculo da terra. Ela fica “em pé”, exclusivamente, por conta da gravidade. Na primeira chuva, vem tudo abaixo. Anotem: daqui a 30 ou 60 dias, vai começar a construção de casebres nos mesmo lugares que desabaram este ano, que foram os mesmos do ano passado e assim por diante. E, muitos casebres vão desabar nos próximos anos enquanto não se resolver esse problema.
A solução em curto prazo não existe. O Rio de Janeiro tem milhões de pessoas morando nas favelas. O que estamos assistindo, nas imagens das TVs, nada mais é do que a consequência de tudo aquilo que vem acontecendo no Rio nas últimas décadas. E o que me deixa mais triste é saber que isso que ocorreu ontem, 08, e hoje, 09, vai acontecer de novo, de novo e de novo.