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Por Redação O Sul | 24 de janeiro de 2021
Prefeituras e governos estaduais têm adotado critérios diferentes para a aplicação da vacina contra a covid-19, o que pode prejudicar a eficácia da imunização no Brasil. Enquanto alguns governos locais decidiram racionar o fármaco para garantir que todos do grupo prioritário recebam as duas doses dentro do prazo recomendado pelos laboratórios, outros optaram por usar toda a remessa de CoronaVac, vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, já na primeira aplicação.
Mesmo com a liberação de um segundo lote da CoronaVac pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), podem faltar unidades para a segunda dose, apontam infectologistas. A diferença entre os dois lotes da vacina que já tiveram o uso aprovado pelo governo brasileiro é de 1,2 milhão de doses. No último dia 17, a Anvisa liberou 6 milhões.
Essa conta não deve ser afetada pelos 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford, importadas da Índia, que chegaram ao país. O carregamento faz parte de uma parceria firmada com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Esse antígeno não pode complementar a primeira dose da CoronaVac.
Para garantir a eficácia da vacinação, a segunda aplicação da vacina do Butantan deve ser feita em até 28 dias. Quem recebeu a primeira dose, por exemplo, deve tomar a segunda até 15 de fevereiro. O governo paulista teria que receber os insumos para a fabricação da vacina, portanto, no fim deste mês, já que leva 20 dias para produzir a CoronaVac. A liberação da matéria-prima, que vem da China, ainda está em negociação.
O intervalo entre as duas doses de CoronaVac sugerido pelo Butantan é o limite máximo recomendado pela Anvisa para que a eficácia máxima da CoronaVac seja alcançada. A agência informou que os prazos descritos nas bulas devem ser respeitados: de duas a quatro semanas para a CoronaVac; de quatro a doze semanas para a vacina da Oxford.
Governos estaduais, responsáveis por dividir as vacinas entre as prefeituras, negam que vá faltar vacina para aplicar a segunda dose em quem já foi imunizado. Isso não impediu que prefeituras, algumas vezes vizinhas, adotassem regras diferentes. Em São Paulo, a maior parte dos municípios tem seguido a orientação do governo estadual para usar toda a remessa de CoronaVac enviada nesta semana. Uma exceção é Guarulhos, que decidiu dividir em dois o lote de 13.680 doses recebidas do imunizante “por conta das incertezas geradas pelos problemas com a importação de insumos e imunobiológicos”. Em nota, o governo paulista afirmou que a “falta de agilidade na disponibilização de vacinas por parte do Ministério da Saúde obriga os estados a programar remessas fracionadas até que venham novos lotes”.
As prefeituras de Rio Branco e Goiânia afirmaram que todos os que tomaram a primeira dose já têm uma segunda garantida e que não faltarão imunizantes. Em Boa Vista, a prefeitura informou que o governo estadual se comprometeu a repassar ao município o quantitativo correspondente à segunda dose. O governo de Roraima confirmou.
“Escolhas difíceis”
Para o supervisor de equipe médica do ambulatório do Instituto Emílio Ribas, Francisco Ivanildo de Oliveira Junior, usar todas as vacinas sem garantia de quando chega a segunda dose é “temerário”.
“Não temos garantia de que chegarão a tempo. Já estamos fazendo escolhas difíceis sobre quem será vacinado mesmo com a perspectiva de que serão entregues”. Para o infectologista Jamal Suleiman, também do Emílio Ribas, não dá para pensar numa alternativa sem novas doses: “Dar uma só dose seria como criar um ensaio clínico novo no meio da pandemia. Não trabalhamos com essa possibilidade”.
O governo do Rio, que espera receber até 200 mil doses da vacina da Oxford/AstraZeneca, pretende aplicar as vacinas em pessoas diferentes — ao contrário do que fez com a CoronaVac, racionada para duas doses.