Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 12 de agosto de 2024
Chave para o ser humano conseguir atingir até 20 mil anos de vida estaria na reprogramação de nossos "softwares" genéticos.
Foto: iStockÉ surpreendente quando conhecemos ou ouvimos falar de alguém que tenha passado dos 100 anos, não é mesmo? Agora, imagine uma pessoa conseguir completar um milênio de vida! Impossível? Segundo um cientista português, não – aliás, sua visão sobre a longevidade humana é ainda mais audaciosa: ele acredita que a tecnologia será capaz de nos fazer viver até 20 mil anos.
João Pedro de Magalhães é professor de biogerontologia molecular na Universidade de Birmingham, na Inglaterra, e um renomado especialista em envelhecimento. Em entrevista ao site Scientific American, ele revelou que, para estender de forma tão incrível a expectativa de vida humana, pretende usar um método, ainda a ser desenvolvido, capaz de remodelar a maturação celular.
O cientista explica que a nossa biologia é governada por programas genéticos complexos, semelhantes a algoritmos de computador, que nos levam à maturidade. Com o passar do tempo, alguns desses programas podem se tornar prejudiciais, levando ao envelhecimento.
“Minha hipótese é que temos um conjunto muito complicado de programas semelhantes a computadores em nosso DNA que nos transformam em um ser humano adulto”, disse Magalhães na entrevista. “Mas talvez alguns desses mesmos programas, à medida que continuam na vida adulta, se tornem prejudiciais”.
Como exemplo, ele cita a involução do timo. “O timo é uma glândula que produz células T, que são muito importantes para o sistema imunológico. Mas essa glândula desaparece bem cedo na vida, por volta dos 20 anos – mais cedo se você for obeso; mais tarde, se você é um atleta. Basicamente, vira gordura. Isso me parece muito programático. É um caso clássico de pleiotropia antagônica, em que um processo que é benéfico no início da vida se torna danoso mais tarde”.
Reprogramação
Para solucionar essa questão, o cientista sugere revisar esses programas, reparar o DNA e desencadear um processo de envelhecimento completamente diferente.
Até agora, a pesquisa de Magalhães se concentrou em animais que desafiam a expectativa de vida de suas espécies. Ele destaca a baleia-da-groenlândia, que vive cerca de 200 anos, e o rato-toupeira-pelado, capaz de atingir 30 anos de vida, enquanto roedores semelhantes vivem apenas em torno de uma década. Segundo o pesquisador, esses animais utilizam estratégias moleculares singulares, como o gene P53, para combater o câncer e prolongar a vida.
Para Magalhães, embora novas drogas estejam mostrando resultados, a chave para a longevidade extraordinária está mesmo na reescrita de nossos “softwares” genéticos. Ele sugere que alcançar a expectativa de vida de mil a 20 mil anos exigiria células imunes ao envelhecimento.
A resistência ao câncer e a capacidade de reparar o DNA emergem como fatores críticos nesse processo. “Na verdade, fiz alguns cálculos anos atrás e descobri que, se pudéssemos curar o envelhecimento humano, a expectativa média de vida humana seria de mais de mil anos”, revela.
Embora desafiador, Magalhães vislumbra um futuro no qual intervenções genéticas radicais poderiam remodelar a biologia humana, tornando-a resiliente ao câncer e aos danos genéticos.
Para que os humanos possam realmente vir a transcender sua limitada longevidade atual, se isso for mesmo possível, ainda falta muito. É necessário aguardar o progresso da pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias que podem nos levar um passo mais próximo de vivermos não apenas um século, mas milênios.