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Cientista brasileiro achou anel espacial impossível que desafia leis da física

Impressão artística de Quaoar e seu anel "impossível" e irregular. (Foto: Esa/Divulgação)

Descoberto apenas em 2002, Quaoar é um pequeno mundo gelado e distante. Bem mais longe que Plutão, ele tem metade do diâmetro desse que já foi considerado o último e menor planeta do Sistema Solar.

Cientistas ainda não bateram o martelo se ele é um asteroide ou um planeta-anão, mas um astrônomo brasileiro recentemente encontrou algo bem estranho por lá: um anel ao seu redor. Teoricamente impossível, a descoberta pode reformular os pressupostos da ciência para o assunto.

Calculado de acordo com o raio e a densidade de um corpo, o tal limite de Roche é um marco da relação entre planetas e suas luas. Se passar desse ponto, um satélite é atraído com tal força que se desintegra em milhares de pedaços de rocha, poeira e gelo.O responsável por isso é um efeito secundário da gravidade, chamado de força de maré.

“Ao quebrar, esta lua vai se transformar em uma estrutura ao redor do corpo principal”, diz Morgado. Essa é uma das maneiras que anéis se formam.

O oposto também acontece: se um anel se afasta demais do planeta e atravessa o limite de Roche, ele vai se aglutinar e virar uma lua. “As forças que mantinham o anel estável começam a não ser mais tão relevantes. A gravidade entre as pedrinhas que o compõem vai fazer com que ele se junte, se tornando um satélite natural”, explica o astrônomo.

Pelo menos é isso que deveria acontecer. A questão é que o anel do Quaoar está muito além desse limite e, pela teoria, já devia ter virado um satélite – o segundo a orbitar o planeta, que já tem a lua Weywot.

Aos 31 anos de idade, esta foi a primeira publicação de Morgado como autor principal na Nature, a mais conceituada revista de artigos científicos. Formado em física, ele trabalha com astronomia e astrofísica desde 2013, quando iniciou o mestrado na UFRJ. “Desde então, estudo os pequenos corpos do Sistema Solar e satélites naturais, fazendo determinações de posição e de parâmetros físicos. É muita observação e análise de dados.”.

De 2015 a 2019, ele fez um doutorado “sanduíche”, entre o Observatório Nacional, no Brasil, e o Observatório de Paris, na França. Na sequência, voltou para a Europa e fez um pós-doutorado, focado na técnica de ocultação estelar.Foi nesta época que ingressou na colaboração internacional por trás da descoberta deste anel “impossível” e outros dois.

“Durante o pós-doc, trabalhei em cima dos anéis do centauro Chariklo, e isso me trouxe todo um know-how sobre essas detecções, o que permitiu que eu estivesse no lugar certo, com as pessoas certas e com as habilidades certas para fazer a descoberta Quaoar”, relembra. Ele faz parte do apelidado “grupo do Rio”.

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