O eleitor radicalizado de direita é predominante homem, renda média, e em grande parte evangélico. O influenciador digital Pablo Marçal, candidato do PRTB a prefeito de São Paulo, conquista velozmente esse eleitorado, mas sua força vai além disso, segundo analisa o cientista político e estatístico Felipe Nunes, sócio-fundador da empresa de pesquisas Quaest, que completa nessa semana uma rodada de levantamento de intenções de voto em todas as capitais brasileiras.
De acordo com Nunes, Marçal ultrapassa essa barreira ao condensar características dos ex-presidentes Fernando Collor e Jair Bolsonaro em um formato que aproximou a política do entretenimento, com sua estratégia de comunicação por meio dos cortes de vídeos curtos nas redes sociais. De Collor, Marçal evoca a imagem de homem jovem, bem sucedido financeiramente e “outsider” na política. De Bolsonaro, a belicosidade no trato de adversários, que transmite autenticidade. “Ele chama a atenção das pessoas pela forma com que transforma política em algo da cultura pop, complementando Collor e Bolsonaro, é uma mistura dos dois”, diz o cientista político.
A forma, contudo, é mais importante que o conteúdo. E, nas últimas semanas, Marçal cresceu em faixas do eleitorado onde tinha participação discreta, como no eleitorado adulto, de 34 a 59 anos. Suas vulnerabilidades são o eleitorado feminino e o de baixa renda. A pesquisa Quaest divulgada na última quarta-feira mostrou Marçal com 27% entre os homens e 15% entre as mulheres; 19% entre brancos e 13% entre pretos; 15% no segmento mais pobre e 21% nas faixas média e superior de renda; 27% entre evangélicos e 15% entre católicos; 14% com ensino até fundamental e 22% com formação até ensino médio.
Horário eleitoral
A estratégia de Marçal pode encontrar um limite com o início do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, do qual ele está excluído por pertencer a um partido nanico que ficou abaixo da cláusula de barreira em 2022. Será um duelo entre ele e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), pelo eleitorado bolsonarista, cada um com uma arma diferente.
Marçal navega sem rival nas redes e Nunes terá 50 comerciais de TV por dia para bombardear a mente do eleitor. Os próximos dez dias, segundo Felipe Nunes, serão definidores. “Essa eleição fará em São Paulo o teste definitivo da relevância da presença televisiva nas campanhas políticas”, afirma.
Felipe Nunes é um formulador da tese de que a polarização entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro se cristalizou no eleitorado e estará presente nas disputas municipais desse ano. Por isso, acredita que se deve tomar com cautela o resultado das pesquisas do próprio instituto que não mostram esse cenário em diversas capitais. Em muitos cenários, ele argumenta, o eleitor ainda não conseguiu identificar na lista dos candidatos qual é o apoiado pelo seu campo ideológico.