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Por Redação O Sul | 24 de janeiro de 2018
Mais doce que uma laranja, sem sementes e maior que uma tangerina. O “tangelo” é uma nova fruta, criada a partir da mistura de uma tangerina com um pomelo. A espécie trata-se de uma das apostas da Embrapa para diversificar a produção de frutas na região do Vale do São Francisco.
No Semiárido, os estudos com citros são conduzidos desde 1996 e envolvem pesquisadores de duas unidades da Embrapa locais. Desde então, são avaliadas pelo menos 40 espécies de citros como laranjas, limas, limões, tangerinas e pomelos. A engenheira agrônoma Débora Bastos, uma das líderes da pesquisa, explica que o tangelo irrigado se adaptou bem à região. Segundo ela, o solo e o clima do local fizeram com que a fruta tivesse “excelente qualidade”.
“A produção foi espetacular, os frutos têm ótimo sabor, coloração e níveis de açúcar e acidez. Se forem comercializados, com certeza vão ser aceitos”, afirma. O próximo passo da pesquisa é estudar melhores técnicas de produtividade e manejo. “Muitos produtores procuraram a gente. Os dados são promissores”, diz.
Versões próximas do tangelo existem em outros países, mas é pouco conhecido no Brasil. São muito comuns na China, Estados Unidos, Israel, Turquia e África do Sul.
Tangerina brasileira.
Já em São Paulo, pesquisadores do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) lançaram uma tangerina 100% brasileira após 20 anos de pesquisas. A nova fruta tem menos sementes, cor intensa e é maior que outras variedades disponíveis.
Graças ao melhoramento genético, a variedade é resistente à mancha marrom de alternária, uma das principais doenças da cultura, que pode até inviabilizar a produção e provocar o fim de um pomar. “É fundamental que as novas variedades sejam resistente a doenças porque isso reduz o custo e aumenta a viabilidade da produção”, diz o produtor rural Emílio Fávero, presidente da Associação Brasileira de Citros de Mesa.
Fávero comenta que trabalhos como o da Embrapa e do IAC são partes de um movimento global: o desenvolvimento de novas variedades cítricas com qualidades diferenciadas. “Ter novas opções de cultivo no Brasil é importante porque estamos vendo um aumento do consumo da tangerina no mundo todo, com novidades em outros países”, diz.
Para Ibiapaba Neto, diretor executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), que representa 90% do suco processado e exportado no País, pesquisas que produzam inovação para a citricultura brasileira são muito bem-vindas. “Como contribuição científica, é importantíssimo desenvolver esse tipo de pesquisa. Já em termos de mercado, é preciso ver se haverá demanda e aceitação no futuro”, pondera Netto.
Entenda.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que em 2015 havia quase 50 mil hectares de tangerina no País, que produziram 1 milhão de toneladas da fruta. Os principais produtores foram São Paulo (35%), Minas Gerais (19%), Paraná (17%) e Rio Grande do Sul (13%).
No entanto, o carro-chefe da citricultura nacional é a laranja. O Brasil é o maior produtor e exportador de suco dessa fruta no mundo – a cada dez copos de suco bebidos no mundo, seis são brasileiros. A estimativa da safra 2017/18 é de 364,5 milhões de caixas de 40,8kg, segundo o Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura).
A atual safra deve superar em 50% a anterior, que foi a menor em quase 30 anos devido às condições climáticas, explica Fernanda Geraldini, pesquisadora do mercado de citros do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), ligado à USP.
A estimativa do Fundecitrus é que haja 191 milhões de pés de laranja em produção no Brasil, espalhados por cerca de 402 mil hectares. A maior parte da produção de suco de laranja está em São Paulo, com cerca de 80% do total. Outros grandes produtores são Estados Unidos, China, México e Espanha.