Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 30 de agosto de 2020
Chave para o coronavírus infectar o ser humano, a proteína S do Sars-CoV-2 é a base de uma vacina em desenvolvimento na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Os cientistas estão animados com os resultados obtidos em testes com animais do imunizante, criado a partir de uma proteína do coronavírus sintetizada em células humanas, o que aumentaria sua chance oferecer uma boa resposta protetora.
A proteína S do coronavírus é produzida pelo Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe/UFRJ e já é usada em testes de diagnóstico e no soro hiperimune de cavalos contra a Covid-19, também em estudo no Rio de Janeiro. O imunizante em desenvolvimento combina a proteína S com moléculas adjuvantes. Estas são compostos que ajudam a potencializar a resposta do sistema imunológico.
“A proteína S é o alvo mais evidente porque o vírus depende dela para infectar e se multiplicar. E nosso pulo do gato são os adjuvantes que empregamos”, afirma Leda Castilho, chefe do laboratório da Coppe.
A parcela mais numerosa das vacinas contra a Covid-19 em estudo no mundo se baseia em proteínas recombinantes, isto é, produzidas artificialmente, com genes clonados. Elas constituem 72 das 233 vacinas candidatas.
Mas o professor de imunologia e vacinologia Herbert Guedes, do Laboratório de Imunofarmacologia/Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (UFRJ), salienta que a vantagem da vacina que o grupo integrado por ele desenvolve é ser produzida por células humanas. A maioria das vacinas com a mesma plataforma emprega somente células de insetos.
Vacina 100% nacional
Segundo Guedes, a proteína recombinante produzida em células humanas tem maior semelhança estrutural com a do próprio coronavírus. Isso ajudaria a treinar melhor o organismo a reconhecer e atacar o vírus.
“Estamos realmente contentes com os resultados obtidos em testes com células e animais até agora. É fundamental que o Brasil tenha uma vacina 100% nacional, uma questão de independência e soberania. As parcerias com grandes laboratórios são importantes, mas não devem ser únicas”, frisa Guedes.
Imunizantes com proteínas recombinantes são bem conhecidos no mundo e considerados seguros. Exemplo de vacina deste tipo é a usada contra a hepatite B, que pode ser aplicada logo após o nascimento. A vacina do HPV também é de proteína recombinante.
Leda Castilho observa que a proteína S é difícil de produzir porque é grande para uma proteína. Além disso, só pode ser cultivada em células de mamíferos, seres humanos incluídos, devido a sua complexidade. E precisa ter ainda altíssima pureza.
Camundongos vacinados pelo imunizante da UFRJ produziram anticorpos neutralizantes (capazes de atacar o vírus) e resposta celular protetoras graças a combinação da proteína S com os adjuvantes. Agora, os cientistas buscam parcerias e financiamento para realizar uma segunda etapa de testes em animais. Para essa etapa, no entanto, é necessário um laboratório de nível de segurança 3 para animais que a UFRJ não dispõe.
“Buscamos parcerias e financiamentos. Essa pandemia mostrou que o investimento em ciência é essencial para a soberania nacional e a proteção de nossa população. Um único teste no exterior pode custar US$ 100 mil e não há laboratórios disponíveis. É essa a situação que precisamos mudar”, diz Guedes.
Também participam do estudo pesquisadores do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, do Instituto de Microbiologia Paulo de Góes e do Campus Duque de Caxias da UFRJ. As informações são do jornal O Globo.