Astrônomos criam hipóteses sobre a presença de cavernas na Lua há pelo menos 50 anos. Mas, até agora, ainda não existiam provas o bastante para confirmar que de fato existe esse tipo de formação rochosa por lá. Agora, um novo estudo descobriu a localização de uma caverna lunar – e indica que, com sorte, ela poderia virar uma base espacial perfeita para explorações humanas no futuro.
Quem assina a descoberta é a dupla de pesquisadores Lorenzo Bruzzone e Leonardo Carrer, da Universidade de Trento, na Itália. Eles encontraram o local após análise dos dados coletados pela missão Lunar Reconnaissance Orbiter, da Nasa (a agência espacial norte-americana). Um artigo que descreve a descoberta foi publicado na segunda-feira (15) na revista Nature Astronomy.
Em 2010, a Nasa utilizou o instrumento Miniature Radio-Frequency (Mini-RF) de uma nave na órbita da Lua para tirar fotos de poços que poderiam ser entradas de cavernas. Embora, à época, as imagens não tenham sido suficientes para comprovar a existência cavernas, a tecnologia atual trouxe novos insights aos pesquisadores.
O novo artigo se dedica especificamente a comentar uma abertura de poço na planície rochosa Mare Tranquillitatis, onde a missão Apollo 11 pousou em 1969. Ela foi fotografada com detalhes em 2022 pelo equipamento LROC (Câmera de Reconhecimento do Orbitador Lunar), da Nasa. Mas, agora, novos dados confirmaram que o que as imagens mostram é mesmo uma caverna.
“Analisamos de novo os dados da missão Lunar Reconnaissance Orbiter, implementando técnicas complexas de processamento de sinais que desenvolvemos recentemente. Assim, descobrimos que certos padrões de sinais são melhor explicados pela presença de uma caverna subterrânea [no local]”, explica Bruzzone, em nota à imprensa. “Isso nos fornece a primeira evidência direta de um ‘tubo acessível’ sob a superfície da Lua”.
Com os registros do Mini-RF, a dupla conseguiu criar um modelo de uma parte da estrutura: uma claraboia na superfície, que leva a paredes verticais e salientes, com um piso inclinado que pode se estender mais para o subsolo. Possivelmente, a caverna se formou há milhões ou bilhões de anos, quando lava ainda fluía pela Lua.
O equivalente mais próximo a esse tipo de formação na Terra seriam as cavernas vulcânicas em Lanzarote, na Espanha.
A caverna lunar ainda não foi totalmente explorada, mas a dupla espera que radares de penetração no solo, câmeras ou até mesmo robôs possam ser usados para mapeá-la melhor no futuro.
Os especialistas defendem que o seu estudo tem importância científica e implicações para o desenvolvimento de missões à Lua. Isso porque o ambiente lunar é hostil à vida humana, com temperaturas extremas de 127°C (no lado visível) e -173°C (no lado escuro), bem como constantes quedas de meteoritos e níveis de radiação cósmica 150 vezes maior do que na Terra.
Essas condições geram a necessidade de encontrar locais seguros para a construção de infraestrutura que possa suportar exploração humana. Cavernas como a encontrada oferecem uma solução promissora para o problema.
“A vida na Terra começou nas cavernas. Então, faz sentido que os humanos iniciem o processo de ocupação da Lua vivendo dentro delas também”, afirma Carrer, em entrevista à BBC.
A caverna lunar pode ser útil para os humanos, mas os cientistas também enfatizam que ela pode ajudar a responder questões fundamentais sobre a história da Lua e até mesmo do nosso Sistema Solar. As rochas subterrâneas provavelmente não são tão erodidas pelo clima espacial, o que significa que elas podem informações geológicas que remontam a bilhões de anos. As informações são da Revista Galileu.