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Cientistas descobrem que é possível reverter a perda de memórias

Estudo traz duas proposições importantes: as memórias de curto prazo podem ser recuperadas e o ser humano esquece para aprender. (Foto: Reprodução)

O esquecimento e memória são temas debatidos desde a Antiguidade. Na mitologia grega, os rios Lete e Mnemosine eram os responsáveis pelo esquecimento e pela memória, respectivamente, na entrada do Hades (o submundo). No entanto, neurocientistas do Trinity College Dublin, na Irlanda, descobriram que o ato de esquecer naturalmente é reversível em certas circunstâncias.

Em um novo estudo, publicado na revista científica Cell Reports, eles conseguiram mostrar que camundongos recuperaram memórias quando receberam novas experiências relacionadas ao que foi esquecido pelo cérebro.

A equipe estudou uma forma de esquecimento chamada interferência retroativa, em que diferentes experiências ocorrendo muito próximas dentro de um período tempo podem sobrecarregar o cérebro, causando o esquecimento de memórias recém-formadas.

Nos testes, os animais foram levados a associar um objeto específico a um determinado contexto ou sala e, em seguida, reconhecer quando ele foi deslocado de seu contexto original. No entanto, os camundongos esquecem essas associações quando experiências concorrentes podem “interferir” na primeira memória.

Em seguida, utilizando uma técnica chamada optogenética (proteínas estimuladas diretamente com luz), eles descobriram que essa estimulação das células recuperou as memórias aparentemente perdidas.

“As memórias são armazenadas em conjuntos de neurônios chamados ‘células de engrama’ e a recuperação bem-sucedida dessas memórias envolve a reativação desses conjuntos. Por extensão lógica, o esquecimento ocorre quando as células do engrama não podem ser reativadas. armazenado em um cofre, mas você não consegue lembrar o código para desbloqueá-lo”, explica o principal autor do artigo, Tomás Ryan, pesquisador e professor associado do Instituto de Neurociência da Trinity College Dublin.

Anteriormente, eles já haviam sugerido que o cérebro esquecia para como uma característica funcional, permitindo maior dinamicidade ao interagir com o ambiente. Dentro das mudanças, que ocorrem o tempo inteiro na sociedade atual, não guardar tantas memórias pode ser benéfico. Já que se foram adquiridas em circunstâncias pouco relevantes, esquecer certas informações pode ser uma mudança positiva que melhora nosso bem-estar, argumentam os pesquisadores.

“Nossas descobertas aqui apoiam a ideia de que a competição entre engramas afeta a recordação e que o traço de memória esquecido pode ser reativado por pistas naturais e artificiais, bem como atualizadas com novas informações. O fluxo contínuo de mudanças ambientais leva à codificação de múltiplos engramas que competem por sua consolidação e expressão”, conclui a co-autora e pesquisadora da universidade, Livia Autore.

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